João Camacho

A arte de trazer turistas


João Camacho começa cedo a trabalhar no Turismo. Os primeiros passos são dados na hotelaria, na Madeira. Passa por alguns países europeus, pela Venezuela e novamente pela ilha. Parte para Inglaterra e nasce a aposta em agências e operadores.


Começa a trabalhar muito novo. Com 11 anos é admitido no hotel Savoy, no Funchal, como mandarete, uma função comum, na altura, nos cinco estrelas.
Dentro da unidade emblemática da ilha, João Camacho percorre sectores como a portaria e a recepção.
Fica no Savoy cerca de 12 anos.
Sai para assumir a direcção do “front-office” (serviço de recepção) do hotel Inter-Atlas, actualmente Dom Pedro Garajau. Por ali fica relativamente pouco tempo, numa unidade que passa por algumas dificuldades, depois do 25 de Abril de 1974.
Naquele período conturbado e instável, depara-se com contratempos para conseguir emprego na Madeira.
Assim, no início de 1975, decide sair para o estrangeiro. Passa por países europeus, como a Bélgica e a França, sempre ligado à hotelaria. Com algumas dificuldades de adaptação, deixa a Europa. Atravessa o Atlântico e vai para a Venezuela. Ali fica cerca de dois anos na cadeia hoteleira Intercontinental.

No Tamanaco, em Caracas

O primeiro emprego que tem é como recepcionista no Tamanaco Intercontinental, em Caracas. Chega a director dos serviços de recepção do hotel.
A dada altura, vem à Madeira, de férias.

O Casino Park

Está a abrir o Casino Park Hotel. Encontra amigos e ex-colegas dos hotéis onde trabalhara anteriormente na ilha. Um deles pergunta-lhe se tem interesse em fazer parte da equipa do novo cinco estrelas.
Aceita o convite. Fica na unidade cerca de 11 anos. Desempenha funções a nível da recepção. Depois, nas relações públicas e também é responsável pelo que se relaciona com a organização de conferências, congressos e as festas que se realizam no hotel desenhado por Óscar Niemeyer.
Com a abertura do Casino da Madeira, desempenha igualmente funções a nível da promoção e vendas e tem responsabilidade directa na contratação de artista que actuam naquele espaço de animação da cidade. É um trabalho feito em acumulação com a actividade no hotel.
Mais tarde, assume a parte comercial no Casino Park.

A Grã-Bretanha

Em 1987 conhece uma jovem inglesa na Madeira. Acaba por vir a casar com ela. No fundo, influencia a mudança de malas e bagagens para a Inglaterra, onde vem a casar.
João Camacho conversa com o director da unidade, Francisco Pereira da Silva. Abre o jogo. Diz que pretende sair para a Grã-Bretanha. Nessa conversa, ouve uma proposta do Grupo Pestana, à altura já proprietário da unidade comprada à família Barreto. A ideia é representar as unidades do grupo no Reino Unido. Aceita e desenvolve a nova actividade na Inglaterra.
Contudo, sente uma certa frustração devido à falta de transportes aéreos para a Madeira, pese embora encontre interesse de muitas empresas de congressos e incentivos em trazer para a ilha os seus grupos.

A criação da “Atlantic”

Não se sente bem a desenvolver um trabalho do qual não vê frutos.
Volta à Madeira e informa os administradores de que não tem interesse em continuar naquela situação.
Termina, por essa altura, a ligação com o Grupo Pestana. Regressa a Inglaterra.
Começa a trabalhar com o operador britânico “Costwold Travel”, que tem um voo “charter” por semana para a Madeira. Ali fica pouco mais de um ano.
Em 1991, com a primeira guerra no Golfo Pérsico, o sector do turismo depara-se com uma certa crise. A empresa dispensa colaboradores. João Camacho está entre eles.
Começa a pensar numa saída.
Arquitecta uma solução. Decide vir à Madeira apresentar um projecto ao patrão do Grupo Pestana, Dionísio Pestana. A ideia é criar um operador de raiz na Grã-Bretanha que faça convergir turistas para a Madeira.
A ideia agrada ao empresário. Pede-lhe que apresente o projecto. Em Abril de 1991 recebe a indicação de Dionísio Pestana para arrancar com o projecto no sentido de criar a nova empresa: a “Atlantic Holidays”.

O começo

Regressa à Inglaterra satisfeito e começa a implementar a empresa. E a conquistar mercado. Enfrenta uma série de situações para as quais não está preparado. Ainda por cima num país estrangeiro onde não tem grandes contactos.
Como director-geral da empresa, propriedade a 100% do Grupo Pestana, arranca firmemente com mais dois elementos.
Apoiado por algumas pessoas, avança com o projecto que assenta no fretamento de aviões para transportar turistas para a Madeira.
Na primeira semana de Novembro de 1991, a primeira da estação de Inverno turística, arranca o primeiro voo fretado pela “Atlantic Holidays”, operado pela “Air Atlantis” (uma empresa portuguesa de voos “charter”, já extinta, na qual participam a TAP e o Grupo Pestana). É um dia muito emotivo para João Camacho, ao ver sair aquele avião de Londres directo à Madeira. É um Boeing 737-300, com capacidade para 148 lugares.
A partir de então, passa a ter voos regulares para a Madeira todas as semanas.
Passado um ano de sucesso, decide apostar em voos de outros aeroportos do Reino Unido para a Madeira. Um ano e meio depois de arrancar com o primeiro voo começa a ter 40 lugares semanais numa ligação partilhada com outro operador, directa de Manchester para a Região.

Parcerias com jornais

A empresa evolui. É muito bem aceite junto do “trade”. Faz parcerias estratégicas com os jornais locais, que ajudam a promover o operador e os voos para a Madeira. Mais tarde, estende as parcerias aos jornais de expressão nacional como o “Daily Express” e o “Daily Telegraph”, os dois de maior prestígio em Inglaterra. Isso possibilita alargar a operação.
Com esta aposta tem possibilidade de ter voos de vários aeroportos do país.
Hoje, a “Atlantic Holidays” já atingiu o topo no Reino Unido. É quem transporta o maior número de turistas britânicos para a Madeira. Anualmente, tem uma capacidade de transporte de 40 mil pessoas, a partir de 11 aeroportos, alguns dos quais opera sozinha. Em média, faz chegar à Madeira entre 750 e 800 pessoas por semana.
A “Atlantic Holidays” tem sede na cidade de Gloucester, a cerca de 200 quilómetros de Londres, mais perto da fronteira do País de Gales. É lá que vive desde que reside em Inglaterra.
Actualmente, a “Atlantic Holidays” tem 13 colaboradores nos escritórios e assistentes aos clientes na Madeira e no Algarve, para onde o operador inicia viagens em 2001. Para lá transporta cerca de 100 pessoas por semana.
A nível de “hobbies”, não tem tanto como gostaria, para praticar desporto, sobretudo nadar. Mas o que mais gosta de fazer é o trabalho que desenvolve. Apostar em projectos e fazê-los crescer.

Actualização

Lê, sobretudo à noite, altura em que procura actualizar-se nos jornais do “trade”. Recebe regularmente a imprensa madeirense.
Tem um relacionamento estreito com as novas tecnologias, para além da prestação indispensável actual, que possibilitam, inclusive reservas na página da Internet, com um número cada vez mais crescente de pessoas a utilizá-lo.
No dia-a-dia mantém-se actualizado na Internet acerca do que se passa no Mundo e igualmente na concorrência.
Em matéria de tempo de trabalho, chega normalmente ao escritório pelas 7.30 horas e regressa a casa pelas 19 horas.
Viaja muito pelo país em trabalho e fora das ilhas de Sua Majestade e contactos de negócio. Aproveita o fim-de-semana para colocar a documentação em ordem.
À Madeira vem algumas vezes por ano, em trabalho e em lazer. 


2004-01-30

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