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Maria José
A lutadora madeirense no Canadá
Maria José nasce na Madeira em 1705, no dealbar do século XVIII.
A sua história de vida é rocambolesca e trágica, com muitos detalhes desconhecidos. Pode ter sido escravizada desde o nascimento.
Condenada à morte, falece em Montreal, no Canadá, a 21 de junho de 1734.
É uma mulher negra que vive escravizada em Nova França, mais tarde província do Quebec, no Canadá, onde passa a ser chamada Marie-Josèphe, ou Angélique.
Lutas das mulheres escravizadas
A sua história oferece uma rara perspectiva sobre as experiências e lutas das mulheres escravizadas de ascendência africana na Nova França.
Entre as suas tentativas de desafiar e escapar da sua condição servil e da sua determinação em manter sua inocência durante o julgamento, tornou-se um símbolo da força feminina e da resistência negra contra a opressão.
Pouco se sabe sobre a sua vida, incluindo o nome de batismo, que pode não ser o atribuído.
Compartilhou alguns detalhes no seu depoimento durante o julgamento de 1734 em Montreal.
É retirada à força da sua casa e vendida ao rico e influente comerciante François Poulin de Francheville, sendo levada para Montreal na década de 1720 como escrava doméstica.
Em junho de 1730, é batizada como Marie Joseph, mas também recebeu o nome de Angélique pela esposa de seu senhor, Thérèse de Couagne de Francheville.
Os nomes
Ao longo dos anos, é conhecida como Marie Joseph Angelique, Marie-Joseph Angélique, Marie-Josèphe-Angélique e outras variações.
Na Nova França, as mulheres escravizadas, especialmente as empregadas domésticas como Angélique, frequentemente sofrem violência física e psicológica.
Quando Francheville morre em 1733, a sua mulher herda os seus bens, incluindo Angélique, que resiste cada vez mais à escravidão de diversas maneiras, e é vendida a um comerciante na cidade de Quebec.
Vendida de novo
Sabendo que é vendida, em fevereiro de 1734, Angélique fuge com um homem branco, um contrabandista de sal condenado chamado Claude Thibault. São capturados 15 dias depois.
Angélique é devolvida a Madame de Francheville. Thibault é preso e libertado no início de abril de 1734.
A vida de Angélique tomou outro rumo dramático naquela primavera.
Ela e Thibault foram acusados de causar um incêndio que destruiu parte de Montreal na noite de 10 de abril.
Angélique é presa, enquanto Thibault fuge e nunca mais é encontrado.
Angélique é levada a julgamento e condenada.
O seu caso é apelado, mas a condenação é mantida.
Em 21 de junho de 1734, em Montreal, é foi torturada, enforcada e depois queimada.
O julgamento ilustra a dureza do sistema judicial colonial em Nova França, assim como em outras partes do mundo naquela época. Ninguém tem acesso a um advogado.
Os julgamentos são baseados em investigações limitadas, boatos e preconceitos do juiz.
As sentenças são severas, até mesmo horríveis, em comparação com os padrões atuais.
O "Código Negro" em França define os escravizados de ascendência africana como propriedade, sem direitos civis ou autonomia.
Embora nunca tenha sido oficialmente implementado no Canadá, influenciou a governança da escravidão, e sua ausência não significava que os escravizados sejam tratados com humanidade.
Os seus corpos pertencem à elite económica e política, e eles são desumanizados como objetos. Não têm escolhas, direitos ou proteção.
Permanece o mistério se Marie Joseph, Angélique, provocou o incêndio.
Seja como for, deixou uma marca importante na história do Canadá, como símbolo da resistência negra contra a escravidão e ícone da força feminina contra a opressão.
Informações desalinhadas
No entanto, sublinhe-se que as informações da sua curta existência além de escassas não são alinhadas.
O primeiro relato completo do seu julgamento, escrito por Denyse Beaugrand-Champagne e publicado no Quebec, em francês, em 2004, constitui o primeiro estudo sério a usar todos os registos do julgamento.
A autora conclui que o incêndio foi provavelmente acidental, resultado de chaminés mal limpas e de uma fogueira na casa vizinha, operada por Marie-Manon, uma jovem escrava que espalha os rumores sobre Maria José.
Neste quadro, Marie-Manon, que poderia ter sido severamente punida, tinha motivação para desviar as suspeitas.
Acredita que as autoridades, sob pressão de uma população enfurecida em busca de um bode expiatório, escolhem o caminho mais fácil e condenam Maria José mais com base no seu caráter independente e franco do que em qualquer evidência genuína.
Não obstante, dois anos mais tarde, Afua Cooper publica um livro sobre Maria José, em inglês. Defende a tese de que teria de facto iniciado o incêndio de 1734, como rebelião justificada contra a dona e como um disfarce para uma tentativa de fuga.
Evelyn Kolish considera o trabalho de Beaugrand-Champagne mais confiável e aponta falhas graves na metodologia de Cooper.
Kolish caracteriza o livro de Cooper como um texto que se situa entre o romance histórico e o ensaio jornalístico antiesclavagista.
Seja como for, é impossível saber com certeza se Maria José foi de facto culpada, tendo em linha de conta que a acusação no julgamento não cumpriu o ónus da prova pelos padrões atuais.
Independentemente de saber se Maria José é inocente ou culpada, a sua história fornece mais informações sobre as condições da escravatura no Canadá.
Allan Greer usou os registos do julgamento para obter uma noção mais completa da vida de uma escrava na Montreal do século XVIII.
Coloca essa experiência em contexto, observa que há graus e variedades de não-liberdade naquela sociedade que afetam servos, engajados, aprendizes e soldados. A escravidão é horrível na maneira como nega a humanidade dos escravos.
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