José Maria da Silva nasce no Funchal, na Madeira, a 18 de fevereiro de 1934.
Falece a 25 de março de 2004.
Faz os estudos primários e secundários na ilha. Frequenta, por poucos anos, o Seminário Diocesano do Funchal.
Forma-se em Filosofia e Direito nas cidades de Salamanca (Espanha) e Coimbra, respetivamente.
Em 1963, regressa à Madeira.
Fundação do Cine Forum do Funchal
A 22 de novembro de 1966, funda o Cine Forum do Funchal (CFF), instituição à qual dedicou grande parte da sua vida.
Apesar de ter desempenhado cargos em vários setores da sociedade madeirense, é graças ao trabalho desenvolvido naquela inovadora instituição que José Maria da Silva ganha maior notoriedade.
Assume a liderança do CFF desde a sua fundação e até 1972 (os estatutos não permitiam mais tempo de mandato).
Naquela data, é substituído pelo então tesoureiro – Crisóstomo Aguiar. Naquele período o Cine Forum não mantém nenhuma atividade.
Após o 25 de Abril, José Maria da Silva foi reeleito para a presidência, mas a conjuntura pós-revolução não permite que se concretizem de imediato os projetos planeados.
Entretanto, vários deputados da oposição regional contactam José Maria da Silva com o objectivo de encontrar soluções para viabilizar o exercício do projeto Cine Forum.
Aquela “pressão” da oposição madeirense, para a reabertura em pleno desta instituição, tem como base a proposta de exibição de filmes pornográficos a ser aprovada na Assembleia Regional.
A oposição entende que o Cine Forum seria uma condição indispensável para minimizar e equilibrar o impacto da aprovação dessa proposta.
Carlos Lélis, como secretário Regional da Educação, apoia a iniciativa. Assinado o acordo que garantia suporte financeiro, o Cine Forum reabre em 1979.
Atividades do CFF
Durante os anos 60, as atividades desenvolvidas pelo Cine Forum centraram-se no debate sobre a 7.ª arte. Nos primeiros estatutos da instituição o acento tónico é o debate da obra cinematográfica, relegando para segundo plano a mera exibição.
São organizadas as duas primeiras retrospetivas do cinema português, uma do expressionismo alemão e uma do cinema mudo americano em parceria com a Cinemateca Nacional.
Também no Cinema realizou os Encontros Internacionais de Cinema Documental, a Mostra Internacional do Cinema Experimental (1980), a Retrospectiva do Cinema Americano (1972).
Em 1983 a instituição leva a efeito o evento mais relevante da sua história: a I Assembleia Mundial dos Realizadores de Cinema e do Audiovisual ( a 1.ª e única até os dias de hoje), que contou com a presença dos representantes de todas as associações e federações de cineastas do mundo e com a presença do então ministro da cultura francês: Jack Lang.
Do evento magno saem as “Actas da Madeira”, que contêm os direitos de autor dos realizadores do audiovisual, documento que faz parte da história do cinema mundial.
Cine Forum Infantil
A par destes eventos, o Cine Forum, através do seu departamento Cine Forum Infantil, leva semanalmente a exibição de filmes a praticamente todas as escolas da Região Autónoma da Madeira.
Esta atividade conta com a colaboração da Secretaria Regional de Educação, através da cedência de educadores de infância e professores primários (destacados no Cine Forum) que são formados, através de vários cursos para acompanharem não só a projeção e o “debate” das obras cinematográficas, mas também outras atividades como a pintura e a escrita sobre o que foi visionado.
Mais tarde o Cine Forum leva também música às escolas e proporciona a deslocação das crianças aos grandes espetáculos realizados no Funchal, fazendo protocolos com as companhias com este objetivo. Em concreto, na contratação é negociada uma 2.ª ou 3.ª atuação para este público específico.
Grandes espetáculos
Ao nível dos espetáculos a instituição trouxe à Região o Ballet Bolchoi de Moscovo; o Ballet de Novosibirski; o Ballet Russo Sec. XXI; a Companhia Nacional de Bailado; o Teatro Negro de Praga; a Ópera de Pequim; a Orquestra, o Coro e o Ballet Gulbenkian; os Coros e Ballet do Exército Russo; John Cage e Merce Cunningham; Jorge Peixinho, os Encontros de Teatro; A Casa da Comédia, A Palavra a Voz e o Gesto, Jacinto Ramos, o Ballet Maria Jimenez, Olga Prats; Gloria Gaynor; Amália Rodrigues; Carlos do Carmo, Paulo de Carvalho, entre muitos outros.
Em 1982 e através do departamento Cine Forum Jovem (departamento autónomo e com orçamento próprio, que desenvolve a sua atividade sobretudo na área do Cinema e tem um programa radiofónico “Snobs em part-time” na RDP-Madeira) é levado a efeito o primeiro concerto rock na Madeira com a presença dos UHF e Lena D’Agua com os Salada de Fruta.
A partir dos anos 80, a atividade do Cine Forum estende-se à organização de colóquios, seminários e conferências sobre múltiplos temas.
Neste contexto estiveram na Madeira personalidades de destaque como o filósofo Fernando Savater, Eduardo Lourenço, Barbosa de Melo, Agustina Bessa-Luís, António Cardoso Pires, Marcelo Rebelo de Sousa, Adriano Moreira, Jorge Miranda, António Lobo Antunes, José Millás entre muitos outros.
Fizeram parte da atividade do Cine Forum, a par das já mencionadas:
- Jornadas de música Contemporânea a partir dos anos 70;
- I e II festival Internacional de Dança da Madeira, em 1984;
- Festivais de Outono da Madeira (8 edições de 1980 a 1987);
- várias edições do “Outono Musical”;
- Festivais de Música Antiga; a Semana da Música Contemporânea (1972);
- I Congresso da Literatura Madeirense, em 1997;
- I Congresso da Cultura Madeirense;
- Congresso Internacional sobre Ensino Produtivo;
- I, II e III Colóquio das Artes do Funchal;
- Ano de Fernando Pessoa;
- Seminário-Curso sobre Herberto Helder;
- I congresso de Arquitectura de Teatros e Museus;
- As Crises de Fim de Século;
- Introdução à Filosofia Hermética;
- Congressos vários sobre Ética e Bioética;
- 1º Salão de Artes Plásticas (1980);
- Exposição de Pintores Contemporâneos da Rússia e Ucrânia (1994); - Festival das Joeiras;
- Concerto de Sinos das Igrejas do Funchal;
- Evento Re-Instalar a Cultura (que contou com várias companhias, pianistas e cantores russos (1994);
- Instalações de rua
- e inúmeros outros eventos.
Pós-graduações
Já no final dos anos 80 o Cine Forum lança a sua primeira Pós- Graduação em Estudos Europeus com a colaboração da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, que foi o lançamento do Instituto de Estudos Superiores do Cine Forum, que tem como diretora Teresa Silva. Traz ao Funchal, até 2006, Pós-Graduações nas mais diversas áreas, desde o Direito à Comunicação Social, passando pelo Urbanismo, a Segurança e Higiene no Trabalho, os Recursos Humanos, a Farmacologia, a Neuropsicologia, as Relações Públicas, entre muitas outras, com a colaboração das mais distinguidas Universidades Portuguesas e Espanholas.
Já na Universidade Popular e na Escola de Filosofia e Artes (outros dos seus departamentos de ensino) ministraram-se cursos de línguas, Curso de Agentes Culturais, formação para locutores de rádio e televisão, Curso de Economia Regional, Criação literária e jornalística, Realização de Cinema, Vídeo e Multimédia, Animação de Rádio e Televisão, Animação Urbana-Arte na e para a cidade.
No âmbito dos cursos leccionados por estes dois departamentos proporcionou aos alunos um programa que permite a mobilidade até às entidades formadoras de origem.
Expansão a Lisboa
Em 1988 o Cine Forum expande a sua atividade cultural também a Lisboa, criando os Festivais de Outono daquela cidade, que levaram à capital entre outros: A Antologia da Zarzuela; as Danças de Espanha; Côros, Ballet e Orquestra do Exército Russo; o Ballet Malegot de Leningrado; a Companhia Contemporânea de Dança de Cuba.
O Cine Forum firmou protocolos com as seguintes entidades: Fundação Calouste Gulbenkian, Universidade de Coimbra, Universidade Nova de Lisboa, Universidade Complutense de Madrid, UNED-Universidad Nacional de Educación a Distãncia- Madrid, Escuela de Letras de Madrid, Instituto Superior de Economia e Gestão-ISEG (Universidade Técnica de Lisboa), Centro de Sonido e Imagen – Madrid, Instituto Superior de Comunicação na Empresa – Lisboa, Instituto Franco-Portuguais, Cinemateca Portuguesa-Lisboa, Instituto Cervantes-Madrid, o INEPS-Rede Internacional para o Ensino Produtivo, entre muitos outros na Catalunha, em França, entre outras.
Associação de Amizade Madeira-Açores
A par da sua extensa atividade na liderança do Cine Forum, José Maria da Silva ainda fundou e presidiu à Associação de Amizade Madeira-Açores.
Foi presidente da Associação dos Amigos do Conservatório de Música da Madeira.
O intelectual madeirense foi também membro do conselho de Administração do INEPS - Rede Internacional para o Ensino Produtivo em 1998, e em 2000 foi convidado a integrar o comité do Prémio Internacional de Arquitectura de Teatros e Museus (Arhitettura Museo – Turim Italia).
À margem da atividade cultural, desempenhou funções em instituições como o Clube Sport Marítimo, o Clube Desportivo S. Roque (do qual foi fundador), a Associação de Socorros Mútuos, a Caixa Económica do Funchal, o Auxílio Maternal e o Conselho do Artesanato.
Consultor jurídico
Como advogado, foi consultor jurídico na área do Direito do trabalho e chefe do Gabinete de Estudos da ASSICOM - Associação dos Industriais e da Construção da Madeira.
Funda o MAIA
José Maria Silva funda o Movimento da Autonomia das Ilhas Atlânticas, em Abril de 1974.
É constituído por intelectuais como o Dr. Carlos Lélis, o Dr. António Aragão, entre outros.
Com o fim da ditadura, o regime democrático português abriu caminho para as reivindicações autonómicas dos arquipélagos, que sentiam o peso histórico do centralismo de Lisboa.
O MAIA e o seu trabalho foram cruciais para moldar o ambiente político que levaria ao reconhecimento do estatuto de Região Autónoma da Madeira.
O movimento, sob a liderança de José Maria Silva, teve um papel importante ao mobilizar a opinião pública, contribuindo para a conscientização dos madeirenses sobre a importância da descentralização e da autonomia como ferramentas para o desenvolvimento económico e social da Região.
Procurou inserir o tema da autonomia na agenda pública, debatendo a necessidade de a Madeira ter as suas próprias instituições de governo regional (Assembleia e Governo Regional) e representou uma voz organizada contra o receio das elites madeirenses de que o poder central, naquele período revolucionário, não correspondesse às necessidades específicas do arquipélago.
Vice-presidente da Assembleia
Depois passou a fazer parte do Partido Popular Democrático (hoje PSD), desempenhando cargos internos no partido e ainda as funções de deputado, tanto regional como nacional e de Vice-Presidente da Assembleia Regional da RAM.
Além fronteiras
O nome de José Maria da Silva e do Cine Forum do Funchal ultrapassa as fronteiras da região e inclusive do país.
Era igualmente uma figura muito conhecida na esfera cultural de Espanha. Com o país vizinho estabelece uma grande ligação desde os tempos de estudante universitário, que se prolongou por toda a sua vida.
Jornal ABC
O eco na imprensa espanhola foi notório em várias ocasiões.
Exemplo disso é o relato publicado no dia 17 de abril de 2004, no suplemento cultural do jornal “ABC”, onde o articulista Alejandro Gândara rende homenagem à carreira de José Maria da Silva no Cine Forum, realçando a sua enorme capacidade de concretização:
“A coluna de hoje pretende apresentar um homem de pouco mais de 60 anos que acaba de morrer: José Maria da Silva. Não tenho a intenção de dar ou procurar consolo e muito menos de suscitar ou aliviar as emoções provocadas por uma morte sentida. Trata-se apenas de pagar essa velha dívida que temos com os que têm tornado a nossa vida mais fácil, luminosa ou apetecível, e que de repente desaparecem”. Lê-se ainda: (...) “José Maria da Silva era um homem empreendedor, mas no sentido renascentista, ou seja, gostava dos grandes empreendimentos e fascinava-o particularmente a ideia de levá-los a cabo com os bolsos vazios, ou gastando o que tinha num só convite, com aquele riso silencioso que tinha a virtude de tranquilizar todos os que tremiam habitualmente ao seu redor. Pertencia a essa estirpe de homens capazes de fretar uma nau em Macau, carregá-la de seda, capitaneá-la e à chegada vender nau e carga para voltar a fazer o mesmo com outra nau de volta. Talvez fosse um sonhador, mas prático: só lhe interessavam os sonhos que navegavam a todo o vapor.
(...)
Vou sentir a sua falta e serei um entre os muitos com o mesmo sentimento. Com ele podia-se sempre falar do impossível como se fosse um bar que aguardasse na próxima esquina e que por razões meramente casuais ainda não tivesse sido visitado.”
Grande Comenda do Infante D. Henrique
A 10 de Junho de 2004 (3 meses após a sua morte) é-lhe atribuída a Grande Comenda do Infante D. Henrique pela República Portuguesa.
Também nesse mesmo ano o Presidente da Câmara do Funchal inaugura uma Rua com o seu nome.
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