Carlos Jardim

Crescer e viver com o turismo



Carlos Jardim começa no turismo bem cedo. O contacto privilegiado com os turistas que se hospedam no hotel do pai abrem horizontes. E é pelo hotel que pega na agência desativada do pai, e sua Flamingo, para uma operação que dura nove meses.
Fica com o “bichinho”. Continua com outras operações.
Mais tarde cria uma agência própria: a Panorama, onde ainda hoje se encontra.
Tem uma paixão natural e forte com o cinema, que é um dos seus “hobbies”, e é igualmente um filatelista com prémios conquistados por esse mundo fora.

por: Paulo Camacho

Carlos Jardim cresce com a hotelaria. Desde os nove anos que lida com os turistas que se vêm hospedar no hotel Voga, do pai, João Jardim, no edifício onde hoje estão os escritórios da Portimar, junto ao Jardim Municipal. É um hotel com 43 quartos e de três estrelas.
Carlos Jardim mora na Rua da Carreira, onde fica igualmente a escola onde faz a primária. Como é um hotel familiar, onde estão a mãe e o pai, desde que existam quartos disponíveis, vive no hotel, juntamente com a irmã.
Contudo, nunca pensa vir a trabalhar com o turismo. Como o pai também tem cinemas, está mais ligado à sétima arte.
A certa altura, o pai compra a “boîte” Flamingo, junto à Rotunda do Infante. E para conseguir utilidade turística, a empresa tem de ser uma sociedade. Para João Jardim comprar as quotas dos demais sócios da empresa, tem de colocá-las em nome de outras pessoas. Desse modo, põe 33% das quotas em nome de Carlos Jardim.

O acaso no turismo 

A empresa Flamingo tem duas atividades: “night club”, onde vai a fina flor da Madeira, e um alvará para agência de viagens. Durante muito tempo, a agência está inativa.
Mas, um dia, está Carlos Jardim com 21 anos, aparece na Madeira um diretor de uma empresa de turismo: a Nordisk Busstrafik, que vem a dar lugar à Tjareborg. Mais tarde tem aviões: a Sterling. Curiosamente, utiliza as siglas de voo NB.
Quer os quartos do hotel Voga para contratar nas operações que pretende trazer para Porto Santo, de avião, e de barco para a Madeira.
O pai não fala inglês, logo, Carlos Jardim é que tem a missão de fazer os contratos. As camas do Voga não chegam. Tem de fazer contratação para outra unidade da cidade.
A dado momento do contrato, Carlos Jardim pergunta ao operador dinamarquês se precisa de “transfers” e excursões.

O começo

Diz que tem o alvará de agência, que está fechada, mas pode muito bem fazer esses serviços.
Antes deste contrato, Carlos Jardim está fora da Madeira durante algum tempo. Quando volta, trabalha na Agência Ferraz. Ali fica um mês e uma semana. Mas não se dá.
Assim, quando surge a oportunidade, agarra-a. Ainda hoje tem guias desse tempo a trabalhar consigo, como João Carlos Veiga Pestana, que começa consigo nessa altura.
Carlos Jardim toma o gosto. O contacto com mais turistas e com raparigas cativa-o. Diz que o material de que, na altura, precisa para se divertir surge à sua porta.
Guarda grandes memórias desse tempo, memórias que um dia admite passar a livro.

O bichinho fica

Ao fim de nove meses termina o contrato. A contratação vai-se.
Mas o bichinho fica.
Começa a contactar com as agências que trabalham com o hotel do pai. Quando fazem reservas, entra em contacto com elas e faz as reservas para o hotel do pai. E também para outros.
Na altura, passa muito tempo no cinema: na bilheteira ou na porta, lá está.
Diz que mais de 80% das pessoas que vivem entre o Caniço e Câmara de Lobos o conhecem. É uma altura em que toda a gente vai ao cinema.
Muitos ainda se lembram hoje em dia das “boleias” (borlas para entrada) que dá no cinema.
O pai tem o Cine Jardim e explora o Teatro Municipal durante muitos anos. Mais tarde constrói o Cinema João Jardim.

Começo aos 21 anos

Este facto, aliado ao de o pai ser uma pessoa muito conhecida na ilha, ajuda a abrir as portas dos hoteleiros para os negócios. Além disso, acreditam na sua vontade. É um agente de viagens, com agência própria, aos 21 anos. Isto numa altura em que praticamente não existem agências de viagens de raiz.
Assiste à chegada da CAT — Companhia de Automóveis Turísticos da Madeira, criada por antigos taxistas. Tem três/quatro autocarros próprios para fazer as excursões locais.
A maioria das excursões é feita de táxi, mesmo as dos passageiros que vêm em navios de cruzeiro.

Os autocarros

Tudo porque havia poucos autocarros e os que são utilizados são das carreiras normais, sem grandes condições.
A seguir à CAT, surge a Manoel dos Passos Freitas. É a segunda agência de viagens a ter autocarros. São dois.
A 4 de Fevereiro de 1971, a Panorama, de Carlos Jardim, compra o primeiro autocarro para a Madeira com ar condicionado.
Na altura, os “velhos do Restelo” dizem que é demasiado para a Madeira. Cerca de um a dois anos depois compra mais dois Mercedes, também com ar condicionado.
Mais tarde, a Panorama está ligada, com um “franchising”, durante muitos anos, à Grey Line, uma empresa internacional especializada em excursões.

Aventuras no turismo

Não obstante, Carlos Jardim recorda os primeiros autocarros ao serviço do turismo na Madeira.
Lembra-se da altura em que as estradas da Madeira não permitiam grandes fantasias. Para ir à Eira do Serrado só havia dois condutores da SAM que o faziam com veículos de 48 lugares, com Carlos Jardim a bordo, que também é guia-intérprete encartado. Durante algum tempo está mesmo à frente do sindicato dos guias na Madeira.
Tem o condão de ter sido o primeiro a entrar com turistas em autocarros em zonas como São Vicente e o Porto Moniz.

A Panorama

A Panorama é a agência de viagens criada por Carlos Jardim, depois de terem surgido alguns problemas com o pai. Deixa a Flamingo para criar a sua própria agência. Abre-a a meados da década de 60, na Rua do Bom Jesus.
Mais tarde, já na década de 70, depois de comprar a parte do pai na Flamingo, muda a Panorama para ali.
No lugar da agência, na Rua do Bom Jesus, 17, abre a empresa Cine Jardim Lda., que mais tarde dá lugar a uma discoteca e onde nasce o primeiro videoclube de Portugal.

As videocassetes

As primeiras importações de cassetes de vídeo para venda no território nacional são feitas por Carlos Jardim. Manda-as vir para a Madeira e reencaminha-as para a Valentim de Carvalho vender em Lisboa.
Mais tarde tem a representação das máquinas IBM porque entende que é a melhor forma de as comprar para a sua agência.
Com o tempo cimenta amizades junto dos agentes de viagens e de hoteleiros nacionais e estrangeiros.
A sua agência tem o condão de ser a primeira ligada a uma associação de incentivos: o Site. É neste âmbito que consegue trazer para a Madeira um seminário europeu há cerca de 11 anos.

O 1.º operador

Carlos Jardim é presidente do Site em Portugal desde há alguns anos, até ao ano passado.
Recorda hoje que o primeiro operador de viagens na Madeira é uma ideia da sua mulher, montado pela Panorama e que conta com o apoio da Invitur e da Star.
A sua empresa faz igualmente excursões a Canárias, de barco. A ida é feita a bordo do “Santa Maria” e o regresso, a bordo do “Vera Cruz”. E, outras vezes, de forma inversa. Depois começam os “charters” e a TAP. Nasce então o operador Turférias, que ainda hoje pertence à mulher, finlandesa, também agente de viagens.
Diz que o operador não faz mais porque, na altura, o mercado é diferente.
Hoje diz que tem a sua quota-parte do mercado. Sente-se satisfeito. E lembra o tempo que anda por essa Europa fora a bater à porta das agências e dos operadores a pedir para que sejam seus clientes.

Cinema e filatelia

No domínio dos “hobbies”, Carlos Jardim aponta dois. Um é indiscutivelmente o cinema. Chega a estar muito próximo do mundo da realização de filmes. Mas sobre isso prefere não falar.
Depois há a filatelia. Diz ser um dos mais importantes na Madeira. Tem carteira de expositor. E, ao longo dos anos, tem exposto as suas coleções no estrangeiro. No ano passado conseguiu conquistar uma medalha de ouro internacional.
Este ano tem já previsto participar numa exposição em Banguecoque, na Tailândia.
A coleção de selos é feita desde criança.
Carlos Jardim tem duas coleções importantes: uma de França, do período compreendido entre 1853 e 1860, e outra, de Israel. De ambas tem recebido inúmeros prémios ao longo dos anos.

Mais de 4 mil filmes

Em relação ao cinema, tem por hábito ver um filme por dia. Ao fim-de-semana, a média é de dois.
Cinema em salas tradicionais não vai na Madeira. Não gosta de ter pessoas na sala a comentar os filmes, a tossir ou a fazer barulhos. Prefere ver num ecrã bom em casa e andar para a frente e para trás conforme precisa.
Por isso, dificilmente vê as estreias. Mas consegue, por vezes, ver os últimos filmes antes mesmo de chegarem ao Funchal. Compra diretamente os filmes nos Estados Unidos da América.
Tem mais de 4 mil filmes. Cerca de 85% da coleção é composta por filmes clássicos antigos. Diz que esses filmes têm mais pureza. Não têm efeitos de computador, que detesta.
Também gosta de fazer férias. Normalmente opta por prolongar as viagens de negócios. Quanto a destino privilegiado tem nos EUA a preferência. Mas sobretudo os parques naturais. Gosta igualmente da Disneylândia, em Orlando.
Ao longo dos anos fez a sua atualização de conhecimentos através de seminários e congressos.
E, quando precisa de saber novidades, contacta com os amigos nos Estados Unidos da América, um mercado que reconhece estar muito avançado.
Carlos Jardim chegou a ter sob a sua responsabilidade 20 pessoas.

2003-03-28

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