António Maria Jardim Fernandes
A engenharia e o turismo
António
Maria Jardim Fernandes estuda engenharia. Aplica os conhecimentos em empresas
no continente e quando regressa à Madeira.
Hoje está
mais ligado ao turismo, com o grupo Dorisol. Chega a apostar na
internacionalização no Brasil.
por: Paulo Camacho
Natural do
Seixal, no Norte da ilha da Madeira, faz a escola normal. Termina o ensino
secundário no Liceu Nacional do Funchal (atual Escola Secundária Jaime Moniz).
Completada
esta etapa estudantil, deixa a Madeira. Segue para Coimbra, para tirar um curso
superior. Contudo, nesse tempo, na “cidade dos estudantes”, não há
licenciatura. Fica-se pelos três anos, bacharelato. Decide mudar para o Porto
com o intuito de completar o curso de Engenharia Civil. Curso que, no entanto,
acaba por ser concluído mais a sul, em Lisboa.
No ano letivo
de 1960/61 faz os últimos exames, nas vésperas de embarcar para Moçambique,
onde cumpre o serviço militar obrigatório. Por essa altura, ainda não há
guerra, que já é conhecida em Angola. A guerra começa apenas em maio de 1964.
Entra para a
“tropa” a 28 de agosto de 1961.
António
Maria Jardim Fernandes passa pelo norte de Moçambique.
Integrado na equipa de
engenharia do Exército, está algum tempo em Porto Amélia (hoje Pemba). Por ali
faz algumas obras, entre elas, cerca de 30 pequenas pontes.
Passa algum
tempo ainda em Moeda.
Encontro
com o leão
Fica pelo
Norte desde janeiro de 1962 até Novembro de 1963, antes do regresso da
companhia. Tudo porque teve um “encontro imediato de 3.º grau” com um leão que
obrigou ao seu regresso antecipado a Lisboa. Fica hospitalizado, na unidade da
Estrela, durante 15 meses. Feitas as contas, com o tempo de internamento, fica
quatro anos na tropa. Sai a 24 de Agosto de 1965.
Depois de
recuperado, entra nos CTT, no continente, no serviço de Edifícios, que não lhe
diz nada.
Muda para a
Câmara Municipal de Lisboa. Por ali fica pouco tempo. Deixa o serviço, que tem mais de administrativo do que de engenharia.
Em março de
1966 ingressa numa empresa do grupo 'Borges & Irmão', a primeira a fazer
pré-fabricação pesada em Portugal.
Para
aprender mais sobre esta matéria inovadora, a empresa envia-o a França para conhecer
melhor os segredos desta tecnologia. Faz um estágio de um mês.
Em Portugal,
a empresa constrói edifícios de cinco, até 12 pisos, com os pavimentos e as
paredes a serem feitos em fábrica. Depois são transportados e encaixados.
São
construções inovadoras, que passam, inicialmente, em modelo com tamanho
natural pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, para o testar contra os
efeitos dos sismos.
António
Maria Jardim Fernandes é responsável pelos painéis e pela estabilidade dos
primeiros 39 edifícios erguidos em Santo António dos Cavaleiros, no continente.
O ritmo de trabalho e a nova técnica fazem subir três andares por dia.
Sai em outubro
de 1969, apesar de estar muito bem na empresa, tanto a nível de posicionamento
como monetariamente. Ganha mais do dobro dos engenheiros mais velhos.
O conhecimento da nova tecnologia de construção dá vantagem e um cargo de chefia.
Este saber-fazer contribui para publicar um livro em coautoria, sobre o efeito
dos sismos em edifícios pré-fabricados.
Criação
da “Batifer”
Regressa à
Madeira. Quer trabalhar por conta própria.
Chega à ilha
a 15 de outubro de 1969.
Constitui a
empresa de construção Batifer.
O primeiro
edifício que constrói é o Lido Sol. Nasce como hotel. Hoje é um edifício de
apartamentos particulares e tem um supermercado no rés-do-chão.
A 15 de
Dezembro de 1970 tem a unidade concluída, com clientes hospedados.
Segue-se a
construção dos hotéis Girassol, Buganvília, Mimosa e Estrelícia. São obras que
decorrem até ao 25 de Abril de 1974.
O último hotel acaba com alguma perturbação
interna, no país, e devido a problemas com o regime de Franco, em Espanha, por
causa de contratos com operadores turísticos espanhóis.
Continua com
a empresa.
Faz a última fase das piscinas do Lido, a Central Térmica dos
Socorridos e o hotel Novo Mundo, no Porto Santo, de interesses alemães, que
ficaria inacabado, até há poucos anos, altura em que o Grupo Ferpinta o adquire
e acaba e passa a ser o hotel Vila Baleira.
Chega a ter
520 pessoas a trabalhar na construção.
A 'Dorisol'
Paralelamente
a esta atividade, está ligado à empresa de turismo Dorisol, que explora algumas
das unidades que constrói. Aos poucos, aumenta a participação na empresa que
hoje controla com os filhos.
O turismo
ocupa a maior parte do tempo, apesar de dedicar tempo à Batifer, que fez trabalhos de manutenção.
A juntar aos
hotéis Buganvília, Mimosa e Estrelícia, o grupo Dorisol adquire o Florasol e
constrói o Ocean Park, vendido ao Grupo Espírito Santo e posteriormente ao atual dono o grupo Enotel.
Internacionalização
Com
interesses na gestão de pousadas na Madeira, o grupo de António Maria Jardim
Fernandes acabou por empreender o primeiro passo para a internacionalização, com
o investimento em duas unidades no Brasil: em Recife e em Fortaleza. E um
escritório em São Paulo. As unidades já existiam, mas tiveram de passar por obras
de beneficiação.
Ordem dos
Engenheiros
Em meados
dos anos 80 entra para a secção regional da Ordem dos Engenheiros, que liderou.
Nas duas
candidaturas presidenciais de Jorge Sampaio é mandatário regional na Madeira.
Uma figura que acaba com a eleição.
Nos tempos
livres gosta de equitação. Chega a ser presidente do Clube Hípico.
António
Maria Jardim Fernandes lê muita informação local e de fora a nível da economia
e do turismo. Passa os olhos pelos títulos e para para ler o que mais lhe
interessa.
Também
acompanha as novidades de engenharia, embora menos intensamente.
António
Maria Jardim Fernandes não imprime o ritmo de outros tempos, até porque tem a
empresa montada com pessoas à altura para funcionar de forma mais autónoma e conta com o apoio dos filhos.
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