João Vacas
Da informática ao Bordado Madeira
João José Oliveira Silva Rodrigues Vacas nasce em 1959, na
Chamusca, perto de Santarém, no Continente, de onde era natural o pai e onde
tinha uma cerâmica. A mãe era madeirense, e tinham uma ourivesaria. Os pais
fazem a vida entre o Continente e a Madeira.
Por: Paulo Camacho
Faz a escola primária na Madeira. Mas há necessidade de o pai
ter uma maior intervenção na cerâmica e João Vacas vai viver para o Continente
onde completa os estudos e o curso. Nos últimos anos trabalha e estuda à noite.
O primeiro emprego foi na Datinfor, que comercializava em
Portugal um sistema informático inovador no tratamento de texto. Eram
igualmente distribuidores das ferramentas assentes na filosofia de multiposto.
Ganha experiência.
Inicialmente, trabalha na área da programação. Mas, depressa
percebe que é mais comercial. Até porque entronca no curso que fez: Gestão de
Empresas.
Em 1984 regressa ao Funchal, numa altura em que continua
ligado à informática. Entra como sócio para a empresa MCC. Dedica-se, a tempo
inteiro, ao projeto. A empresa presta serviços a terceiros.
Pega na MCC e torna-a numa empresa comercial. É a altura em
que começam a surgir os primeiros computadores pessoais.
Recorda ter sido um projeto muito interessante.
A empresa adquire as instalações onde ainda está, o que constituiu
um investimento significativo.
Implementa igualmente uma vertente significativa ao nível da
formação.
Aposta imobiliária recupera a Bordal
Surge a aposta, com amigos, em mais uma empresa.
Decidem comprar a casa de bordados Bordal. Mais na perspetiva
imobiliária.
Em 1991, um dos sócios coloca o desafio de recuperar a
empresa. Em três anos, perdem muito dinheiro na tentativa de a reerguer.
Chega a uma fase onde João Vacas vê duas saídas: esquecer o
investimento, e perdê-lo, ou decidir recuperar a empresa. Para o segundo
cenário, tinha feito projeções da sua viabilidade, as quais mostram hipóteses
teóricas de ter algum sucesso.
Decide-se pela segunda saída. Está ciente que a prática
difere muito da teoria.
João Vacas não teme o novo desafio. Deixa completamente a
MCC. Estamos em 1998. Dedica-se a 100% à Bordal, que passa a controlar
totalmente depois de comprar a parte dos dois sócios. É uma altura em que a
empresa continua a atravessar um período complicado em vários domínios, quer a
nível organizacional, quer financeiro.
Começa pelo acesso. A Bordal, apesar de ter acesso direto no
rés-do-chão, desenvolve-se a partir do 1.º andar da Rua Dr. Fernão de Ornelas.
Apesar de ser uma empresa fortemente exportadora, João Vacas considera que
tinha de mudar a filosofia e também apostar fortemente no mercado local.
Emagrece a empresa a nível administrativo. E implementa
processos informáticos completamente diferentes.
Susana Vacas reforça equipa
A mulher, Susana Vacas, vai para a Bordal em 1999. Reforça a
equipa onde sobressai na vertente da criatividade. João Vacas passa a ser sócio
na empresa de bordado Madeira com a mulher. Pensam na melhor forma de atrair as
pessoas. Surge a ideia de ter uma bordadeira à entrada. Estávamos em abril de
1999 e recorda que “no dia que colocamos a bordadeira a empresa mudou”.
Considera que foi o “Ovo de Colombo” e que hoje constitui a imagem da Bordal.
João Vacas recorda que quando chegou à empresa o mercado dos
bordados madeirenses era dominado por meia dúzia de importadores estrangeiros,
nomeadamente italianos.
A Bordal estava “presa” a esses importadores que comandavam
toda a produção. Entende que tem de mudar e aposta em lojas com nível para
vender o que produz.
Além disso, altera a forma de comercializar no mercado de
exportação. Trabalha sob encomendas especiais com a particularidade de receber,
pelo menos, 50% do valor do trabalho na altura da encomenda. “Inverti o ciclo
de financiamento e constituiu um dos fatores que contribuiu para mudar a
situação financeira da empresa”, sublinha.
A Bordal, além da fábrica e loja na Rua Dr. Fernão de
Ornelas, tem uma loja no final da subida da Av. do Infante. A do centro do
Funchal é a que mais vende, até porque possibilita a visita à unidade de
produção.
Desenhos apelativos e adaptado à procura
O empresário refere que neste novo caminhar, a Bordal decidiu
igualmente desenvolver desenhos mais apelativos, com design mais adaptado aos
tempos atuais. E produções mais simples. Refere que continuam a vender o
bordado tradicional, rico, com as grandes peças lindíssimas. Mas é preciso ir
ao encontro dos jovens que procuram coisas mais simples, tornando-os também
mais económicos.
Outra aposta que acredita ter sido acertada foi a linha de
bebé, que levou à empresa pessoas mais jovens, contrariamente ao que acontecia
antes, que eram apenas pessoas mais velhas que lá iam. “Começamos a ter um
público jovem na empresa, que se apercebeu de soluções apelativas de Bordado
Madeira”, acentuou.
Por outro lado, como pretende renovar os clientes, a Bordal
começa a apostar também em feiras setoriais no país e, sobretudo, no
estrangeiro.
Na altura, começa a tirar partido do computador portátil com
uma base de dados de desenhos da empresa, o que admite ter causado um grande
impacto nos clientes.
Uma promoção nas Arábias
Uma das grandes promoções no exterior aconteceu em 2014,
quando estiveram em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos. Uma feira
organizada pelo sheik de Abu Dhabi, dirigida à família real. Foi um convite
feito através da Embaixada de Portugal naquele país do médio oriente. Assentava na presença do stand de Portugal
onde constava tudo o que o país tinha de melhor. A Bordal foi escolhida para
representar Portugal ao nível das roupas de mesa. “Ficamos muito satisfeitos
pelo facto de o Bordado Madeira ir representar Portugal naquele país”,
confidencia, acrescentando que resultou numa missão de sucesso. “Tivemos sucesso
não só a nível de vendas para lojas em Abu Dhabi e no Dubai como igualmente
para o Palácio onde a minha mulher foi convidada e para onde vendemos uma série
de coisas”, confessa João Vacas, que admite que terão de lá voltar.
No entanto, sublinha que são uma empresa pequena, familiar, e
não conseguem estar em todo o lado. Mesmo assim, procuram estar presentes onde
são solicitados como aconteceu quando a Bordal fez golas para incorporar em
blusas da Chanel, um projeto que reconhece ter sido de alguma dificuldade e de
uma responsabilidade muito grande, que obrigou a uma dedicação acentuada da
empresa. Essas golas brilharam numa passagem de modelos memoráveis em Paris.
Durante o período de produção, todas as semanas vinham buscar pessoalmente as
golas acabadas à Madeira.
Essa ligação manteve-se e está na calha outro projeto
diferente, igualmente com a marca francesa, fundada em 1909.
João Vacas não tem dúvidas quando diz que a Bordal hoje é uma
marca com grande notoriedade, com clientes em toda a parte do mundo, de Nova
Iorque, Paris, Londres, Atenas ou Roma.
Revela que em cada cidade importante procura ter um grande
cliente das suas produções porque
não tem dúvidas que “continua a haver um nicho de mercado
para o Bordado Madeira”.
O empresário confessa que passa o dia na empresa.
Mas admite que encontra sempre tempo para pensar noutras coisas fora da Bordal,
hoje perfeitamente estabilizada.
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