João Vacas

Da informática ao Bordado Madeira

(nova adição 2018)


João José Oliveira Silva Rodrigues Vacas nasce em 1959, na Chamusca, perto de Santarém, no Continente, de onde era natural o pai e onde tinha uma cerâmica. A mãe era madeirense, e tinham uma ourivesaria. Os pais fazem a vida entre o Continente e a Madeira.

Por: Paulo Camacho

Faz a escola primária na Madeira. Mas há necessidade de o pai ter uma maior intervenção na cerâmica e João Vacas vai viver para o Continente onde completa os estudos e o curso. Nos últimos anos trabalha e estuda à noite.
O primeiro emprego foi na Datinfor, que comercializava em Portugal um sistema informático inovador no tratamento de texto. Eram igualmente distribuidores das ferramentas assentes na filosofia de multiposto.
Ganha experiência.
Inicialmente, trabalha na área da programação. Mas, depressa percebe que é mais comercial. Até porque entronca no curso que fez: Gestão de Empresas.
Em 1984 regressa ao Funchal, numa altura em que continua ligado à informática. Entra como sócio para a empresa MCC. Dedica-se, a tempo inteiro, ao projeto. A empresa presta serviços a terceiros.
Pega na MCC e torna-a numa empresa comercial. É a altura em que começam a surgir os primeiros computadores pessoais.
Recorda ter sido um projeto muito interessante.
A empresa adquire as instalações onde ainda está, o que constituiu um investimento significativo.
Implementa igualmente uma vertente significativa ao nível da formação.

Aposta imobiliária recupera a Bordal

Surge a aposta, com amigos, em mais uma empresa.
Decidem comprar a casa de bordados Bordal. Mais na perspetiva imobiliária.
Em 1991, um dos sócios coloca o desafio de recuperar a empresa. Em três anos, perdem muito dinheiro na tentativa de a reerguer.
Chega a uma fase onde João Vacas vê duas saídas: esquecer o investimento, e perdê-lo, ou decidir recuperar a empresa. Para o segundo cenário, tinha feito projeções da sua viabilidade, as quais mostram hipóteses teóricas de ter algum sucesso.
Decide-se pela segunda saída. Está ciente que a prática difere muito da teoria.
João Vacas não teme o novo desafio. Deixa completamente a MCC. Estamos em 1998. Dedica-se a 100% à Bordal, que passa a controlar totalmente depois de comprar a parte dos dois sócios. É uma altura em que a empresa continua a atravessar um período complicado em vários domínios, quer a nível organizacional, quer financeiro.
Começa pelo acesso. A Bordal, apesar de ter acesso direto no rés-do-chão, desenvolve-se a partir do 1.º andar da Rua Dr. Fernão de Ornelas. Apesar de ser uma empresa fortemente exportadora, João Vacas considera que tinha de mudar a filosofia e também apostar fortemente no mercado local.
Emagrece a empresa a nível administrativo. E implementa processos informáticos completamente diferentes.

Susana Vacas reforça equipa

A mulher, Susana Vacas, vai para a Bordal em 1999. Reforça a equipa onde sobressai na vertente da criatividade. João Vacas passa a ser sócio na empresa de bordado Madeira com a mulher. Pensam na melhor forma de atrair as pessoas. Surge a ideia de ter uma bordadeira à entrada. Estávamos em abril de 1999 e recorda que “no dia que colocamos a bordadeira a empresa mudou”. Considera que foi o “Ovo de Colombo” e que hoje constitui a imagem da Bordal.
João Vacas recorda que quando chegou à empresa o mercado dos bordados madeirenses era dominado por meia dúzia de importadores estrangeiros, nomeadamente italianos.
A Bordal estava “presa” a esses importadores que comandavam toda a produção. Entende que tem de mudar e aposta em lojas com nível para vender o que produz.
Além disso, altera a forma de comercializar no mercado de exportação. Trabalha sob encomendas especiais com a particularidade de receber, pelo menos, 50% do valor do trabalho na altura da encomenda. “Inverti o ciclo de financiamento e constituiu um dos fatores que contribuiu para mudar a situação financeira da empresa”, sublinha.
A Bordal, além da fábrica e loja na Rua Dr. Fernão de Ornelas, tem uma loja no final da subida da Av. do Infante. A do centro do Funchal é a que mais vende, até porque possibilita a visita à unidade de produção.

Desenhos apelativos e adaptado à procura

O empresário refere que neste novo caminhar, a Bordal decidiu igualmente desenvolver desenhos mais apelativos, com design mais adaptado aos tempos atuais. E produções mais simples. Refere que continuam a vender o bordado tradicional, rico, com as grandes peças lindíssimas. Mas é preciso ir ao encontro dos jovens que procuram coisas mais simples, tornando-os também mais económicos.
Outra aposta que acredita ter sido acertada foi a linha de bebé, que levou à empresa pessoas mais jovens, contrariamente ao que acontecia antes, que eram apenas pessoas mais velhas que lá iam. “Começamos a ter um público jovem na empresa, que se apercebeu de soluções apelativas de Bordado Madeira”, acentuou.
Por outro lado, como pretende renovar os clientes, a Bordal começa a apostar também em feiras setoriais no país e, sobretudo, no estrangeiro.
Na altura, começa a tirar partido do computador portátil com uma base de dados de desenhos da empresa, o que admite ter causado um grande impacto nos clientes.

Uma promoção nas Arábias

Uma das grandes promoções no exterior aconteceu em 2014, quando estiveram em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos. Uma feira organizada pelo sheik de Abu Dhabi, dirigida à família real. Foi um convite feito através da Embaixada de Portugal naquele país do médio oriente.  Assentava na presença do stand de Portugal onde constava tudo o que o país tinha de melhor. A Bordal foi escolhida para representar Portugal ao nível das roupas de mesa. “Ficamos muito satisfeitos pelo facto de o Bordado Madeira ir representar Portugal naquele país”, confidencia, acrescentando que resultou numa missão de sucesso. “Tivemos sucesso não só a nível de vendas para lojas em Abu Dhabi e no Dubai como igualmente para o Palácio onde a minha mulher foi convidada e para onde vendemos uma série de coisas”, confessa João Vacas, que admite que terão de lá voltar.
No entanto, sublinha que são uma empresa pequena, familiar, e não conseguem estar em todo o lado. Mesmo assim, procuram estar presentes onde são solicitados como aconteceu quando a Bordal fez golas para incorporar em blusas da Chanel, um projeto que reconhece ter sido de alguma dificuldade e de uma responsabilidade muito grande, que obrigou a uma dedicação acentuada da empresa. Essas golas brilharam numa passagem de modelos memoráveis em Paris. Durante o período de produção, todas as semanas vinham buscar pessoalmente as golas acabadas à Madeira.
Essa ligação manteve-se e está na calha outro projeto diferente, igualmente com a marca francesa, fundada em 1909.
João Vacas não tem dúvidas quando diz que a Bordal hoje é uma marca com grande notoriedade, com clientes em toda a parte do mundo, de Nova Iorque, Paris, Londres, Atenas ou Roma.
Revela que em cada cidade importante procura ter um grande cliente das suas produções porque
não tem dúvidas que “continua a haver um nicho de mercado para o Bordado Madeira”.
O empresário confessa que passa o dia na empresa. Mas admite que encontra sempre tempo para pensar noutras coisas fora da Bordal, hoje perfeitamente estabilizada.

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