Saturnino Silva

O apoio em terra dos aviões

Saturnino Silva toma o gosto pela aviação quando faz a tropa em Angola, a que tenta escapar na juventude. Entre na TAP em 1972. Sobe degrau a degrau até ser convidado para liderar o “handling” da TAP em Lisboa.

por: Paulo Camacho


Saturnino Silva nasce no Funchal. Faz todo o liceu na Madeira, que o vê nascer.
A meio da juventude depara-se com o problema que muitos rapazes da sua geração têm pela frente: o fantasma da guerra de África que o antigo regime alimenta com soldados roubados às suas famílias.
Saturnino Silva decide continuar os estudos em Lisboa. Mas a ida à capital é aproveitada também para a entrada noutra “escola”: a da liberdade. Assim, quando vai a Lisboa matricular-se no Instituto Comercial, aproveita para tentar fugir para o estrangeiro.
A intenção é clara: não cumprir o serviço militar obrigatório, porque, com grande probabilidade, tem de ir para a frente de combate num dos territórios portugueses de então, em África.

Liberdade “borregada”

Contudo, a missão a que se propõe com um grupo de jovens acaba por sair gorada. Ou “borregada”, para utilizar a linguagem aeronáutica que hoje lhe é tão familiar.
Está na fronteira vigiada de Vilar Formoso. Juntamente com um grupo, tenta passar a fronteira para Espanha na calada da noite. Mas a Guarda Fiscal surpreende-os. Não há fuga para ninguém.
Resultado: vão todos para o interrogatório habitual nestes casos. A liberdade não passou das intenções. De um sonho.
Regressa à Madeira. Agora, por maioria de razão, é chamado para a tropa. Entra no curso de milicianos.
Vai para a guerra em Angola. Como teme, vai para o mato, para uma zona de conflito. Por ali fica durante dois anos. O meio de ligação com as principais cidades é os aviões. Por isso, o constante contacto com os “pássaros de lata” activa-lhe o gosto pelo mundo da aviação, um gosto que na Madeira não o tem de tão perto. Os aviões só começam a aterrar na Madeira quando o aeroporto é inaugurado em 1964. E o movimento que se segue não é tão intenso como hoje em dia.
Acabada a tropa, regressa à “metrópole”. O “bichinho” dos aviões vem na bagagem de Angola. Quando surge a oportunidade, vai trabalhar para junto deles.

Na TAP em Janeiro de 1972

Em Janeiro de 1972, Saturnino Silva entra na TAP, no Aeroporto do Funchal, como despachante de tráfego.
O gosto pelo mundo da aviação alia-se à competência. Assim, cinco anos depois de entrar na maior empresa de aviação portuguesa, já é supervisor. Em 1979 passa a controlador de operações de tráfego.

Chefe de escala em 1992

A partir de 1992, é nomeado chefe de escala da Madeira, que inclui o Porto Santo.
Saturnino Silva tem a particularidade de ser o primeiro madeirense a desempenhar a função na Região Autónoma da Madeira. Até então é sempre desempenhada por um funcionário deslocado de Lisboa.
Acontece que o profissionalismo que sempre dedica ao trabalho que desempenha é reconhecido no topo da empresa, em Lisboa.

Convite para Lisboa

Em 2001 é convidado para um novo desafio.
A administração da empresa convida-o para director do “handling” da TAP Air Portugal em Lisboa.
Aceita o cargo, um cargo que ainda mantém. De um aeroporto com alguma movimentação, Saturnino Silva passa para o maior do país com um vastíssimo movimento de aviões e carga e onde se dão algumas transformações para melhorar a operacionalidade dos serviços.
Em termos práticos, um serviço de “handling”, ou operações de terra, é responsável pela movimentação desencadeada num aeroporto desde que um avião aterra até partir.
É da sua responsabilidade a gestão de todos os equipamentos que vemos encostar ao avião quando estaciona, como as escadas, os “push-back”, os geradores de energia e a retirada das malas e carga dos porões. É igualmente sua função fazer com que a bagagem que deixamos no “check-in” siga em segurança até ao avião para que a recebamos no destino tal como a deixámos.

Certificação

De realçar que a área de negócio de “handling” da TAP obteve a Certificação da Qualidade pela norma ISO 9001:2000, atribuída pela APCER — Associação Portuguesa de Certificação. Torna-se uma das primeiras entidades do sector da aviação a alcançar esta distinção a nível internacional e a primeira em Portugal. A distinção corresponde à consolidação de uma nova política orientada para a qualidade no serviço ao cliente como factor distintivo da TAP.
De entre as várias iniciativas tomadas neste âmbito, destaque para a recente criação de uma equipa dedicada ao apoio personalizado aos passageiros da companhia no Aeroporto de Lisboa, onde se encontra Saturnino Silva, e especializada na gestão de irregularidades.
No global, o “handling” da TAP movimenta anualmente 14 milhões de passageiros nos aeroportos de Lisboa, Porto, Faro, Funchal e Porto Santo, assistindo mais de 200 companhias aéreas, incluindo a grande maioria das companhias aéreas de bandeira que operam nos aeroportos nacionais.
No caso concreto do Aeroporto de Lisboa, Saturnino Silva tem hoje sob a sua responsabilidade cerca de 1.300 colaboradores.

Gosto pelo trabalho

Saturnino Silva trabalha em média 11 horas por dia. Mas não se aborrece com o largo período que passa na Portela, em Lisboa. Tudo porque, conforme salienta, gosta imenso do que faz. Considera que cada dia é um novo desafio.
Normalmente, passa os dias úteis da semana em Lisboa e vem ao fim-de-semana a casa na Madeira.

“Hobbies”

No domínio dos “hobbies”, Saturnino Silva adora viajar. Gosta igualmente de fazer praia, não propriamente por estar deitado a apanhar banhos de sol e de mar, mas pela possibilidade que ali encontra para relaxar e retemperar forças e para confraternizar e conversar com amigos e família.
Outra ocupação que tem para os tempos livres passa pela sétima arte. Gosta de ir ao cinema.
Em relação à leitura, adora sobretudo a contemporânea. Estão incluídos na sua lista de preferências autores como Cardoso Pires, Lobo Antunes, Paulo Coelho e Virgílio Ferreira.
No domínio das novas tecnologias, há muito que conhece e desfruta das suas potencialidades. Diariamente navega na Internet e considera-a uma ferramenta fundamental na sua vida profissional. Utiliza igualmente o “e-mail” como ferramenta elementar na comunicação diária pessoal e profissional.

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