Maria José Sousa
Mariazinha, a padeira
Começa cedo a trabalhar na padaria do
pai, na Rua de Santa Maria. Algum tempo depois tem de segurar,
sozinha, as rédeas do negócio, que acaba por adquirir totalmente. O
pão ganha fama. E Mariazinha torna-se uma figura carismática da
Zona Velha da cidade.
Faleceu em abril de 2011.
Faleceu em abril de 2011.
Estuda como as crianças da sua idade.
Faz a escola primária. Participa no exame de admissão ao
liceu.
A ideia de Maria José Sousa, que há
muito é conhecida por Mariazinha, a padeira, é continuar os estudos. Quer concluir o curso para ser professora.
A vida prega uma partida.
Dá uma queda e corta os tendões de uma mão.
Até ao fim da vida sentia dificuldade em escrever com a mão direita que, contudo,
não inviabiliza que conseguisse fazê-lo bem.
Ainda doente da queda encontra
ocupação para fazer quando ainda tem 12 anos.
Os pais residem na Rua Dr. Juvenal,
onde existe uma grande fazenda. Fica com a missão de cuidar de
alguns animais que a família tem em casa.
Os anos passam.
Na padaria com 16 anos
Já com 16 anos, vai trabalhar para a
padaria que o pai tem na Rua de Santa Maria. O negócio já conhecera
melhores dias.
Por essa altura, o pai
tem sociedade com Manuel Veloza Faria na padaria falida.
Com o negócio naquele estado, o sócio
do pai dispõe-se a vender a sua parte. Facilita a venda da sua parte
por 50 mil escudos.
Mariazinha encontra um fiador: José
Clemente da Silva, ligado à indústria de bordados.
Com apenas 16 anos, toma conta da
padaria, juntamente com o pai. De três em três meses paga o
estipulado com o fiador: 3.300 escudos, para amortizar a dívida, de
que toma a responsabilidade com o pai.
O nome pelo qual é conhecido o negócio
é alterado para Padaria Mariazinha a 4 de junho de 1955, altura em
que o Dr. Sales Caldeira constitui a nova sociedade: 80% ficam para o pai e 20 por cento para Maria José Sousa.
Por aquela altura, são amassados 150
quilos de farinha, o que é considerado muito.
Pão às costas
Daí que Mariazinha tem literalmente um
grande peso nas costas.
Anda pela cidade e pelos
estabelecimentos de saca com pão às costas. Não há carro de
apoio.
Chega a ir a pé ao então Hotel
Avenida, no final da Avenida do Infante, onde hoje está o
Conservatório de Música.
Os primeiros tempos na padaria que
partilha com o pai, conhecido por Manuel "o cambado", não
são nada fáceis.
Um dos problemas que encontra é o de ser
mulher e ter a ousadia de trabalhar. Ainda por cima, por estar à
frente de um negócio. Não cai muito bem numa sociedade onde a
maioria das mulheres fica em casa a cuidar dos filhos.
Chega a levantar-se às duas e três da
manhã para contar o pão que irá pegar e levar numa saca por essa cidade que ainda dorme.
Um dia, vem de casa, pela calada da
noite, atrás de um homem que carrega, igualmente às costas, um
cacho de bananas. Vem sempre no seu encalço, mais atrás, por
considerar que, assim, tem alguém que a proteja em caso de surgirem
ladrões ou malfeitores. Por outro lado, vê ali mais uma
pessoa que tem de acartar o triste fardo da vida.
A dada altura, surge um polícia no
caminho. O homem que segue à frente larga as bananas no chão e
foge. O polícia pergunta se conhece a figura que escapa na
escuridão. Diz que não. Conta antes que vem atrás para ter mais
segurança.
Contudo, nem quer acreditar quando o
agente da autoridade lhe diz que é um ladrão que acaba de se
esfumar.
Com as rédeas do negócio
Algum tempo depois, o pai sofre um
problema de saúde. Fica gravemente debilitado. Mariazinha segura o
barco sozinha. Apoia sempre o progenitor até à hora em que este parte para a última viagem.
Tem de cuidar do negócio. E da
família, da mãe e da irmã mais nova.
Mariazinha, a padeira, conta com o
apoio de Sales Caldeira para a ajudar nesta fase difícil da vida.
É ele, inclusive, que a leva a ser
sócia do Clube Desportivo Nacional.
O trabalho, que antes já era difícil,
fica mais sobrecarregado.
Trabalha e chora de tal forma que não
deseja semelhante vida a ninguém.
Por altura da partida do pai, surgem
interessados na compra da parte dos herdeiros.
A Associação dos
Industriais de Panificação no Funchal, à qual não pertence a
padaria, também quer adquirir a parte dos herdeiros.
Com essa pressão, acaba por pagar 20
mil escudos pela parte do irmão mais velho, António. Uma parte que
diz não valer nada.
Posteriormente, vai comprando as partes
dos outros herdeiros.
A dado momento da sua carreira, conta
com o apoio do marido, que, entretanto, tem de cumprir o serviço
militar obrigatório. Regressa. Contudo, tempos depois, as contas da
empresa não batem certo. Como resultado, o marido segue o seu caminho noutro lado.
Mariazinha continua com as rédeas da empresa.
No entanto, passa por grandes
dificuldades. Chega a dormir na própria padaria, em cima de camas
mal amanhadas. As adversidades dão força para continuar e crescer como empresária empreendedora e figura carismática da Zona
Velha da cidade do Funchal.
Amplia investimentos
Anos mais tarde, amplia a rede de
padarias. Compra a padaria "Brasileira", no Chão da Loba.
Depois, adquire outra no Transval.
Admite que se não fossem
alguns contratempos teria ainda mais.
Com três padarias, em duas das quais
teve os filhos à frente, decidiu investir na hotelaria, num edifício e em outros limítrofes que compra na Rua de Santa Maria, onde tem a
padaria. Compra o edifício em 1977.
Contudo, a aquisição dos imóveis, os
trespasses e conseguir fazer sair as pessoas que ali vivem dá muito
trabalho e exige muito dinheiro. Conta com o apoio do Dr. Baltazar Gonçalves. A maior parte das vezes, as compras são
efetuadas recorrendo à banca.
Só em 1987 consegue ter todo o
edifício para si. Nessa altura saem os últimos
moradores para habitações sociais, mediante o pagamento de
indemnizações.
Grande parte dos imóveis que adquire
estão degradados. Inclusivamente, também chove dentro da padaria. Uma
inspeção chega a colocar contratempos. Mariazinha pede
mais um prazo para proceder às obras.
A residencial
Mariazinha não esconde que desde o
primeiro dia que para ali vai trabalhar sempre alimentou a esperança
de comprar o edifício para construir uma residencial sobre a
padaria.
Vozes sabedoras dizem-lhe sempre que
"temos sempre o que plantamos". Isso dá-lhe força. Não
descansa enquanto não consegue adquirir todo os prédios.
Em 1997 começam as obras.
Anos depois, inaugura a residencial. Tem nove quartos e uma "suite".
Mantém a traça original, com
adaptações para o turismo.
Continua a amassar o pão da mesma
forma que aprendeu das mãos do seu pai.
Todos os dias vai à padaria.
Mulher empreendedora
Mulher empreendedora, sempre habituada
a trabalhar diariamente, disse que seria bom ter menos idade para
poder fazer mais. Admite que a saúde não deixou grandes
rasgos para empreender muito mais. Mesmo assim, quis ter forças para
reconstruir a casa onde morou, mesmo em frente à padaria.
Nos tempos livres que encontrou na sua
vida, Mariazinha apreciou particularmente a política. Apreciou figuras
como o presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim, o prof.
Virgílio Pereira, e o general Carlos Azeredo, entre outros.
Contudo, não se considerou política nem teve aspirações a tal. Mas gostava de ler nos jornais tudo o que se refere
a este motor social, assim como ver o da televisão, que lhe mostrava um mundo que não tinha gosto particular por visitar.
As vezes que saia da Madeira deixavam grande saudade de um regresso apressado ao seu negócio, pelo que não
nutria especial vontade de sair.
Dizia mesmo que, quando deixava do negócio,
ficava doente.
Trabalhar em equipa
Regozijava-se por nunca ter conhecido uma
greve nem ter tido problemas laborais nos seus negócios. Tinha colaboradores com mais de 30 anos de casa.
Lembrava as grandes noites onde,
num ambiente familiar, trabalhavam, todos, com motivação, até de
manhã. Aliás, considera que quem dirige empresas só tem a ganhar
se for realmente amigo daqueles que colaboram consigo. Se assim não
fizerem, não conseguem ter uma equipa unida.
Mariazinha, a padeira, faleceu em abril de 2011.
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