Jorge Gomes da Silva
Uma vida a
fotografar
Jorge Gomes
da Silva começa cedo a trabalhar no mundo da fotografia.
Um chumbo na
escola faz o pai convidá-lo a entrar no negócio familiar que vem já do bisavô.
Dá todos os passos na Fotografia Vicentes até se reformar.
Faleceu a 19 de dezembro de 2008.
Faleceu a 19 de dezembro de 2008.
Apesar de estar ligado familiarmente aos “Vicentes”, tem
como nome de baptismo Jorge Bettencourt Gomes da Silva.
Na sua
família há a tradição de colocar o nome Vicente ao filho primogénito.
Uma tradição
que vem do tempo do bisavô, que funda a casa de fotografia no Funchal. Chama-se
Vicente Gomes da Silva. O avô chama-se Vicente Gomes da Silva Júnior e o pai
Vicente Anjo Gomes da Silva, e, finalmente, o irmão Vicente Bettencourt
Gomes da Silva.
O filho
também recebe o nome de família: Vicente Gomes da Silva. É
jornalista e deputado na Assembleia da República.
Jorge Gomes
da Silva estuda despreocupadamente no liceu. Não tem sonhos
de ser isto ou aquilo quando for crescido. Quer apenas viver o dia-a-dia.
Mas um dia
tudo muda. Chega ao fim do terceiro ano do liceu, onde hoje está o museu de Arte
Sacra. O recreio é no espaço onde se encontra a Praça do Município.
O primeiro emprego
Não consegue
transitar de ano. Chumba com um nove. O irmão dá força para que repita o ano. O
pai prefere que ajude na Fotografia Vicentes, fundada em 1846, pelo bisavô, na
Rua da Carreira, em vez de meter mais gente.
Assim, a
meio da juventude, começa a trabalhar, a ajudar o pai na loja. Primeiro aprende
a retocar negativos de vidros. Fica por ali cerca de um ano. Queima a vista a
fazer este trabalho minucioso. Alguns negativos, poucos, partem-se. Mas, como
tiram em duplicado, a imagem está assegurada.
Até então
não tem qualquer contacto com a fotografia, apesar de crescer numa família
ligada a esta arte algumas gerações.
O irmão,
Vicente, retoca com grande rapidez, uma média de quatro enquanto Jorge o faz
num. O pai já tem alguma dificuldade, devido à idade.
Jorge Gomes
da Silva retoca negativos de bilhete de identidade, de bilhete-postal e de
outros formatos.
Mais tarde
passa a trabalhar no quarto escuro, a revelar, a imprimir e a fixar.
Trabalham na
loja seis pessoas.
Posteriormente,
depois de dominar estas duas técnicas, evolui.
Começa a
aprender a pegar na máquina fotográfica grande do estúdio, construída pelas
mãos hábeis do bisavô. Só a lente vem de Inglaterra.
A máquina de
“ateliê” é basicamente feita em madeira, muito prática e revolucionária para
uma época e uma região onde as tecnologias chegam tarde.
A juntar a
esta arte de bem-fazer, constrói uma cadeira com as costas onde existe um forro
em forma oval.
Uma vez
tirada esta parte, a pessoa coloca-se naquele espaço e fica a cara da pessoa,
com um formato diferente e já com moldura.
Dar vida às peças
Passados
alguns anos desde que deixa a fotografia, Jorge Gomes da Silva tem ocasião de
mostrar como funcionam as duas peças. Maneja-as com mestria e com a precisão de
outros tempos. Ainda conhece cada pormenor da máquina fotográfica maior que um
homem. Aproxima e foca com precisão. Mostra os dispositivos de aberturas. Vê-se
que a máquina não tem segredos para si.
O experiente
fotógrafo leva-nos a uma autêntica visita guiada ao
Museu
Fotografia Vicentes, que mostra os segredos de uma das mais importantes casas
de fotografia madeirenses, hoje desactivada.
Dá vida a
cada peça que toca e enche de luz os quartos frios que mostram as diferentes
fases do processo da fotografia desde que é tirada até ser entregue ao cliente.
As
fotografias nas paredes e nos álbuns ganham notoriedade assim que dá nome a
cada pessoa retratada.
Até parece
que se movimentam, pela forma como as descreve. Tem uma memória de elefante.
Mais tarde,
o bisavô manda vir uma máquina para as fotografias a fazer no exterior.
Estamos numa
altura em que não existem as facilidades de hoje. As pessoas do campo que
precisam de fotografias têm de se deslocar ao Funchal. É quase uma tradição.
Apesar de
ser uma técnica com uma expansão menor do que a de hoje, Jorge Gomes da Silva
admite que fazer fotografia no seu tempo talvez seja mais em conta que hoje.
Fotografar de novo
Jorge Gomes
da Silva faz trabalhos de interior, no estúdio, onde os muitos cenários
transportam os fotografados para as mais diversas paragens. Mas também faz
fotografia no exterior, de momentos solenes, de casamentos e baptizados e de
realidades que permitem transportar vivências passadas até aos nossos dias.
Jorge Gomes
da Silva lembra-se do dia em que faz um casamento.
Faz tudo
conforme mandam as regras. Ou quase tudo. Já com as horas adiantadas dá conta
que a máquina não tem rolo. A solução é repetir o irrepetível. Fala com o padre
e lá todos fazem de conta. Só para posar para a posteridade.
Recorda que,
a dada altura, a casa tem 380 mil negativos registados, com toda a informação
necessária sobre o cliente.
Desde cedo
que gosta de desporto.
Por isso,
pratica natação e “table tennis”, como chama. O que, traduzido, significa
ténis-de-mesa ou “pingue-pongue”.
Pouca fotografia
Também gosta
de ler, livros e jornais. Noutros tempos vai muito às salas de cinema. O
domingo é passado a ver as novidades da sétima arte. Não viaja muito. Vai até
ao Porto Santo e às Desertas. Acompanha o dr. Américo Durão, com as suas lanchas,
na altura em que vai para estes lugares caçar, juntamente com o irmão. As
máquinas fotográficas ficam em casa. Mais tarde alarga a distância e passa a ir
mais longe.
Tem máquinas
fotográficas em casa, na casa onde vive junto ao museu com o nome de família.
Mas diz que não tem vontade de fotografar.
Ainda chega
a levar a Lisboa as máquinas algumas vezes. Mas, como a filha tem câmaras
fotográficas, nem chega a usar as suas.
Hoje,
algumas vezes, vai ao museu matar saudades.
Diz que, se
tivesse oportunidade de começar a vida de novo, não sabe se gostaria de voltar
a fazer o mesmo. Mas, como nunca teve sonhos de vida, admite que, mediante as
condicionantes da altura, talvez tivesse de voltar a entrar no mundo da
fotografia.
O sócio número 1
Jorge Silva
é hoje o sócio número um do Club Sport Marítimo.
Vê os jogos
todos quando a equipa joga em casa. Tem um lugar reservado para si na tribuna.
Faz-se sócio
na altura em que o irmão é director do clube. Já lá vão muitos anos. Algum
tempo depois de se fazer sócio vê o seu clube ser campeão de Portugal. É uma
altura em que os jogadores transpiram a camisola.
BI
Nome: Jorge
Bettencourt Gomes da Silva
Data de
Nascimento: 6-10-1913
Data do falecimento: 19-12-2008
Data do falecimento: 19-12-2008
Naturalidade:
Sé, Funchal, Madeira
Filhos: 3
B. I.
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