João Figueira da Silva


Vida em prol do turismo

Cresce na empresa onde trabalha e recebe a proposta de ser seu delegado na Madeira. Aceita. Depois de trabalhar em duas agências de viagens diferentes naquela função entende que chega a hora de seguir o seu próprio caminho. Cria a Euromar juntamente com um sócio. Hoje, a sociedade está em família e os negócios ampliados.


João Figueira da Silva está no turismo há 42 anos. Mas desde sempre tem um gosto especial pelo sector.
Estuda em diversas escolas. Entre elas destaque para o Externato Nun’Álvares, mais conhecido por “Caroço”, e o Lisbonense, onde tem como amigos António e Nicolau Borges. Nas horas vagas vão jogar aos “cowboys” para o Jardim Municipal.
O primeiro emprego acontece na empresa João Silvério Pires, que ainda hoje existe na Madeira. A empresa é representante da Air France.
É uma altura em que os hotéis praticamente fecham no Funchal. A maioria, ingleses, só vem à Madeira no Inverno. E de barco.
Cumpre três anos de serviço militar. Está na infantaria e a guerra na Índia surge no horizonte. Já a demonstrar grande leitura do que passa à sua volta, João Figueira da Silva apercebe-se de que não há força aérea nacional no país das especiarias. Requer a passagem para a força aérea. É concedida. E tem sorte. O seu batalhão de Mafra segue inteirinho para a Índia. Sem João Figueira da Silva.
Mais tarde, surge o perigo da guerra de África. Mas, nessa altura, já está a sair da tropa.
Ao mudar para a força aérea, tira um curso de radar no departamento do Estado que existe em Paço de Arcos. Não liga às aulas. O principal objectivo já havia conseguido com a permanência em Portugal. Por isso mesmo, acaba por perder o curso.
Durante o período em que presta o serviço militar passa um ano na base de Sintra. É a altura em que surgem os primeiros aviões americanos. Por saber falar bem inglês, tem a sorte de ser o tradutor dos americanos com os portugueses. E, nesse âmbito, goza de uma situação privilegiada na unidade nesse final da década de 50.

Conquistas

Deixa o serviço militar. Regressa à Madeira. E à empresa de João Silvério Pires, um empresário com quem reconhece ter aprendido muito.
Nas horas vagas anda pelos hotéis à conquista de estrangeiras. Acompanha-o João Manuel Brazão, já falecido, antigo dono do hotel Duas Torres. É uma dupla de pinga-amores das inglesas que desembarcam e embarcam no porto do Funchal. Chega a telefonar para bordo, via Marconi, para mais uma despedida.
Noutras alturas, amigo de longa data de António Borges e Nicolau Borges, ligados à sociedade proprietária da unidade, assiste às obras do novo Savoy. Por isso tem facilidade em entrar quando tudo fica pronto. Juntos brincam. Já não aos “cowboys” mas aos galãs que partem às conquistas de estrangeiras.

Aposta em França

Contudo, além da dedicação às mulheres, tem outras ambições na vida. João Figueira da Silva diz que sempre se conhece como uma pessoa que quer evoluir.
A dado momento decide deixar a Madeira. Decide ir para França. Estudar francês na Alliance Francaise.
Vai trabalhar para a Europa Bus, uma empresa especializada em excursões. Uma boa parte com turistas norte-americanos. Existem programas até ao monte Saint Michel, às praias onde os aliados desembarcaram durante a segunda guerra e ainda ao castelo do Vale do Loîre. Há muito trabalho e os guias ganham bem.
João Figueira da Silva entusiasma-se muito com esse trabalho. Tira rapidamente o curso e estuda a história francesa.
Seis meses depois de estar em França já é guia e faz as referidas excursões com os americanos. Recebe cerca de 200 francos por dia. Fora as gorjetas dos generosos americanos.
Mais tarde, um dos donos da empresa convida João Figueira da Silva a ir para uma outra: a Airtours France. São 30 pessoas a trabalhar no operador turístico francês onde é o único estrangeiro.
Na Airtours France vai para o departamento de bilhetes de avião, que não conhece bem. Não existem os computadores. A emissão de bilhetes é feita à mão.
O operador trabalha somente com Canárias, Palma de Maiorca e norte de África.
O negócio cresce e a Madeira surge como hipótese de figurar na brochura da Airtours. Madeira onde não vem durante quatro anos. Aproveita para conhecer os países da Europa que bordejam a grande nação francesa.
Mais tarde começa a vir anualmente.
Depois de trabalhar na empresa durante cinco anos, o director do operador diz que já haviam publicado o destino na brochura no ano anterior. Contudo, o agente na ilha, Manuel Passos Freitas, não está a funcionar tal como pretende a Airtours.

Quem é o João?

Nesse sentido, incumbe João Figueira da Silva de vir à Madeira saber o que se passa com a agência. E assim acontece.
Já na ilha, vai ao hotel Monte Carlo, de Mário Pereira, também dono da agência a estudar. Quando vê Figueira da Silva, como lhe costumam chamar, pergunta se conhece um tal João Silva que trabalha em França na Aitours e que vem à Madeira saber o que se passa na sua agência. Brincalhão, o próprio diz que não faz ideia de quem seja.
No dia seguinte, entra pela Manuel Passos Freitas o tal João Silva: o próprio João Figueira da Silva. Apresenta-se e, do outro lado, Mário Pereira fica surpreendido.
Passa uma semana na Madeira. Regressa a Paris e faz o relatório.
Fica mais seis meses na empresa. Os negócios vão bem. Já são quase 200 pessoas.

Delegado na Madeira

A certa altura, é convidado pelo director para vir para a Madeira como delegado e homem de confiança da Airtours. Assim acontece. Fica três/quatro meses na Manuel Passos Freitas.
A dado momento, Joaquim de Gouveia, que trabalha no Blandy, e ainda é seu primo, convida-o a ir para a agência da família Blandy. Argumenta que a empresa é nobre e as pessoas do Funchal gostam muito.
É então que o delegado da Airtours France na Madeira muda para a Blandy. Ali fica até 1980.
Está bem na vida. Mas não gosta de ser confundido como um empregado da Blandy, já que é antes o delegado da Airtours France junto da empresa na Região.
É então que começa a alimentar a hipótese de criar uma empresa própria.
Mete-se no avião e vai a Paris. Fala com os patrões a saber se o apoiam caso crie uma empresa própria. Recebe todo o apoio.
Regressa à Madeira. Fala com Ferdinando Nóbrega, que tem algumas unidades hoteleiras na ilha.
Logo que lhe apresenta as suas ideias para criar a empresa, de pronto ouve do outro lado que está disposto a ser seu sócio.

A Euromar

Está em construção o edifício onde hoje está a Euromar. E decidem comprar o rés-do-chão. Estamos em 1979. Um ano depois abre a agência de viagens Euromar.
Cerca de 10 anos depois, João Figueira da Silva compra a parte do sócio e fica com 95% da sociedade. Os restantes 5% são da esposa.
De início, praticamente só representa a Airtours France e a Airtours Suisse, com quem já trabalha na Blandy.
Os negócios vão crescendo e hoje tem uma diversidade de operadores a trabalhar consigo.
Além disso já diversificou os investimentos. Com mais dois sócios, compra o hotel Raga, no Funchal, há cerca de 15 anos, igualmente ao seu antigo sócio.
Posteriormente, compra 67% da agência de viagens Ferraz, igualmente na capital da ilha.
Há alguns anos, os filhos terminam os cursos. Um opta pela medicina dentária e outro por engenharia. Pergunta se algum quer ir trabalhar consigo na Euromar. Só Eduardo, que é engenheiro de formação, diz querer trabalhar com o turismo e com o pai. Está como director da agência, onde já trabalha há cinco anos.
A Euromar chega a facturar um milhão e 200 mil contos em 2000. Em 2001, foi menos cerca de 190 mil contos.
A empresa tem o condão de ter sido a primeira agência de viagens a comprar um autocarro próprio de turismo com grande qualidade, conforto e ar condicionado. Outros sucedem para dar personalidade à empresa.

A maior conquista

Com uma vida recheada de muito trabalho e dedicação às conquistas, chega uma altura em que vai de férias a Nova Iorque. Chega à Madeira e telefona-lhe Trigo Pereira, então director do hotel Santa Maria. Convida-o para almoçar. Estamos em 1970. Durante a refeição, Trigo Pereira diz a João Figueira da Silva que está no hotel uma rapariga francesa de férias, sozinha. É muito gira. Só lê e bebe sumos de limão. Já nesse dia de Outubro sai com a jovem, então funcionária da Air France. A relação prolonga-se até hoje. É a sua esposa.
A jovem volta à Madeira no Natal seguinte e na Páscoa. João Figueira da Silva vai um dia a Paris conhecer os futuros sogros.
Até que se decide casar. Compra uma passagem. Mete-se no avião e vai a Paris “dar o nó”. A mãe (o pai já havia falecido) não acredita. Nem tão-pouco o irmão. A única pessoa que acredita é a irmã. Por isso, vai ao casamento.
Com a fama de galã que tem na Madeira, nem mesmo os amigos acreditam que tenha casado.
Quando chega à Madeira, a mãe obriga os recém-casados a vestirem os fatos de casamento e a dar uma festa. Os amigos só acreditam se mostrar a certidão de casamento para justificar que o amante da vida de solteirão havia casado. Um casamento que completa em Maio 32 anos.

“Slow down”

João Figueira da Silva tem quase 65 anos, mas nem quer ouvir falar de reforma. Diz que quer fazer o “slow down” e deixar a empresa navegar mais com o filho Eduardo. Contudo, admite que o seu desejo é muito complexo. Os amigos e a rede de contactos são muito fortes, torna-se muito difícil de deixar e passar para as novas gerações. São amizades dos tempos em que havia muita ética nos negócios.
Por isso mesmo, há já algum tempo que o filho o acompanha em muitas deslocações.
João Figueira da Silva quer jogar mais golfe e dar mais passeios no seu barco. Adora o mar e não se sente bem quando está longe do imenso oceano. É uma satisfação ver o mar.
A juntar aos “hobbies” do golfe e do mar gosta imenso de viajar. Por vezes, procura conciliar as viagens de negócios com prolongamentos para lazer. Mas não dispensa férias a sério. Adora fazer cruzeiros. Já conhece muitas partes do Mundo. Recentemente fez um pelos mares da China e países próximos. Para o Verão deste ano está previsto um cruzeiro que o levará da Europa ao Pólo Morte, e depois até ao Canadá e Nova Iorque.
Além de tudo isto, tem a particularidade de sentir necessidade de sair da Madeira frequentemente. É um escape que não dispensa.
Hoje, João Figueira da Silva tem a trabalhar consigo nas suas empresas cerca de 150 pessoas.
Além das suas empresas, o empresário está ligado a um operador turístico: a Madvia, da qual é presidente do conselho de administração.

Cônsul honorário

Paralelamente à actividade empresarial, João Figueira da Silva é hoje cônsul honorário de França. Tudo acontece por acaso quando um dia o cônsul-geral francês visita a Madeira e vai à casa de alguns cidadãos franceses que vivem na ilha. Uma é a esposa de João Figueira da Silva. Convence-o a ser o novo cônsul gaulês na Madeira. Mas rejeita.
Dois/três meses depois recebe uma chamada do embaixador francês a convidá-lo a passar na embaixada juntamente com a esposa. Assim acontece. E lá convence João Figueira da Silva a ser cônsul. Uns tempos depois, recebe um ofício do governo português a atestar que o aceita como agente consular. Recebe a carta patente.
O primeiro acto oficial acontece com a visita de uma esquadra francesa à ilha, onde vai estar o embaixador e as autoridades civis e militares da Região. Tudo corre bem naquele Outubro de 1980. Hoje tem a parede do escritório cheia de recordações dos navios franceses que passaram pela Madeira e cartas patente. É o mais antigo dos sete cônsules honorários que existem em Portugal.
É presidente da Associação do Corpo Consular na Madeira.
João Figueira da Silva é membro do Lions há 28 anos, três dos quais como presidente.
Na actualização dos conhecimentos lê muito a imprensa. Jornais e revistas. Lê os jornais da Madeira, o Expresso e os diários Le Figaro e Le Monde, entre muitas outras publicações maioritariamente francesas.
Não é muito apreciador de livros.
Considera que o agente de viagens que está a evoluir para o consultor tem de estar sempre muito bem informado sobre os destinos no sentido de prestar um valor acrescentado que a Internet não alcança. Não obstante, por experiência própria, sabe muito bem as potencialidades desta tecnologia chamada virtual mas que é bem real em aplicações para quem pretende viajar.

Utilizador da Internet

João Figueira da Silva tem uma familiaridade muito grande com as novas tecnologias. Utiliza a Internet e o correio electrónico como ferramenta imprescindível para os múltiplos contactos que estabelece diariamente. Vai à Internet frequentemente procurar questões relacionadas com o turismo e o mundo marítimo. No fundo, esta aposta nas novas tecnologias vem dos tempos em que tudo se processava com os telegramas. Tecnologias que evoluem até à Internet e o correio electrónico de hoje. 


2003-01-10

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