Uma vida no
mundo das viagens
Emílio
Rodrigues cumpriu o serviço militar na Guiné-Bissau.
Regressou em
1969. No ano seguinte entrou na TAP. Sai e implantou a Varig na Madeira. Introduziu a Intervisa na Região, a qual elevou a um patamar de referência no panorama das
agências de viagens madeirenses. A empresa mudaria de nome para
InterTours.
Faleceu a 23 de maio de 2024.
por: Paulo Camacho
Emílio
Rodrigues é oriundo de uma família da classe média madeirense. Faz a
escolaridade normal nos anos 60. Completou o liceu até ao então sétimo ano de
escolaridade, na área de económicas.
A tropa
apanha-o pelo caminho.
Faz recruta
no continente. Passa por Mafra, Santarém e Lamego, nos Rangers, uma tropa de
elite tipo Comandos.
Depois, não
consegue escapar à guerra colonial. E, para ajudar, vai direitinho para o pior
teatro do conflito das províncias ultramarinas portuguesas: a
Guiné-Bissau. Lá fica dois anos inteiros, de janeiro de 1968 a dezembro de
1969.
Inimigo
sem rosto
Tem de combater um inimigo que diz não conseguir identificar completamente. Admitia que existiam leituras diferentes da sua, mas estava seguro de que a maioria dos
jovens que lutam ao seu lado se confrontava numa lógica de cumprir um dever
imposto.
Dureza
fortalece
Apesar de
tudo, considerou que aprendeu muito ao cumprir o serviço militar. Dizia, com
orgulho, que, juntamente com muitos dos seus contemporâneos que estiveram na
guerra, fez aquela “faculdade” com muita dureza. Uma dureza que permite que
consigam afirmar-se, mais tarde, nas mais variadas atividades profissionais que
cada um dos que regressa segue. Reconhece que alguns colegas de luta estão bem
lançados na vida. Com modéstia, diz não ser o seu caso. Mas a verdade é que
Emílio Rodrigues foi uma referência madeirense no turismo, nomeadamente na sua
área: agências de viagens.
A
justificação para a sua constatação assenta no facto de a escola da vida os ter
tornado mais conscientes, com sentido de responsabilidade muito grande e uma
capacidade de decisão enorme. Capacidade que, durante a guerra, é
constantemente posta à prova.
Dizia que
guardava boas e más recordações desse período conflituoso.
Branqueamento
Não
obstante, não quis deixar de criticar os sucessivos governos do pós-25 de Abril
que, a seu ver, tiveram quase uma postura de branqueamento da guerra colonial.
Dizia que quase pareciam ter vergonha do passado. "O passado não é para apagar.
História é História", sublinhava, a propósito.
Mais tarde, reconheceu que começou a haver algum desenvolvimento positivo no sentido de dar
algum valor a quem lá esteve.
Acaba a
tropa, a que sobrevive, ao contrário de colegas que não tiveram a mesma sorte e
que vê cair ao seu lado.
Regressa
casado. Uma realidade consumada durante um período de férias.
Chega ao
Funchal em dezembro de 1969.
Não traz na
mala grandes horizontes sobre o caminho a seguir.
Vê-se casado
e com compromissos e com a nova família. A saída mais plausível é trabalhar de
imediato para conseguir ganhar dinheiro. Por isso, a continuação dos estudos
fica para segundo plano.
1.º
emprego: TAP
Numa altura
em que encontra poucas saídas para se empregar depara-se com as melhores
oportunidades para uma carreira na banca, na administração pública ou na TAP
Air Portugal. Sabe que não quer uma profissão só de gabinete. Consegue entrar
para a TAP, que corresponde ao desejo de ter uma profissão motivante. Fica na
TAP durante cerca de três anos.
A Varig
É convidado
pela transportadora área brasileira Varig, na altura, com grande pujança no
país. Vai para a área comercial no sentido de desenvolver, em simultâneo com
Lisboa, ações comercias na Madeira e nos Açores.
Aceita o
desafio. Assume o cargo, onde fica durante 10 anos. Durante esse período, monta
escritório na Madeira e nos Açores.
Depara-se
com a impossibilidade de progredir dentro da própria empresa. A partir do
patamar que atinge, só há lugar para brasileiros.
Nessa fase
da sua vida só vislumbra duas saídas: ou mantém-se e marca passo, sem nenhum
espaço de progressão em termos de carreira, ou parte para outra aposta, que lhe
permita alcançar outras ambições.
Grupo
Intervisa
Nos
primeiros anos da década de 80 é convidado pelo então recém-formado Grupo Visa,
que, posteriormente, daria lugar ao Grupo Intervisa. Atua na área das agências
de viagens e afins.
Emílio
Rodrigues é convidado para abrir um escritório no Funchal.
Destemido,
como sempre, aceita o desafio. Juntamente com outro sócio, começa a exercer a atividade
base da sua vida.
Nos
primeiros anos da década de 90, por razões meramente profissionais, entende que
é altura de proceder a mudanças na agência. Com visões de caminhos a seguir
divergentes do sócio, chegam a acordo. O sócio segue o seu próprio caminho e
Emílio Rodrigues continua com a Intervisa, uma empresa que ficou para si para os dos
dois filhos.
Empresa
de referência
Ao fim
destes anos considera que consegue catapultar a empresa para o lugar cimeiro
que hoje ocupa. Uma empresa que acaba de mudar de nome sem quaisquer
sobressaltos. De Intervisa passa a InterTours, numa operação bem estruturada,
feita com conta, peso e medida.
A
InterTours passou a estar envolvida em projetos de vária ordem. Projetos de
diversificação dentro da área do turismo. Tinha como base a atividade de agências
de viagens, nas vertentes de importação e exportação., estudando uma estratégia de diversificação e até de
verticalização em várias áreas de negócio.
O
consultor de viagens
Emílio
Rodrigues considerava que o papel atual do agente de viagens teria de tender para
ser um consultor turístico nas duas vertentes e não meramente um vendedor de
bilhetes ou um mero intermediário na relação com fornecedores como as
companhias de aviação, a hotelaria e a rent-a-car.
Entendia que
a informação disponibilizada é tanta que o cliente na componente de exportação,
por vezes, está capaz de prescindir de um simples distribuidor de serviços.
Para isso, admitia que podia recorrer a diferentes meios, como a Internet. O que
precisava era de ser aconselhado em matérias como custos, prestação de serviços nos
mais variados aspetos, como realidades que não encontra escrito em lado nenhum
e que são fruto de um conhecimento prévio do agente de viagens.
No fundo
está apto a responder em função das necessidades de cada cliente.
A
InterTours
Reconhece
que algumas empresas aperceberam-se desta situação.
Em relação à
importação, falava da necessidade de as empresas se posicionarem, cada vez mais,
no sentido de conseguirem organizar congressos e incentivos. Nessa área dizia ser
preciso um saber-fazer muito forte.
A InterTours montou e consolidou estruturas que permitiram dar a resposta
total, rápida e eficiente em todas as áreas de turismo.
Além de infraestruturas
e aposta nos meios informáticos, foi dada uma importância cada vez maior aos
recursos humanos. Sublinha que os recursos humanos são a componente mais
importante de cada empresa, especialmente nas agências de viagens. "Os
computadores são rápidos a fazer muita coisa, mas o fator humano é essencial."
Recursos
Humanos
Por isso
mesmo dizia que o grande investimento tinha de ser sempre nos recursos humanos para
que se sintam suficientemente fortes a vencer num mundo global.
Em relação à
mudança do nome de Intervisa para InterTours explicou que anteriormente a
Intervisa Funchal fazia parte do Grupo Intervisa, a nível nacional.
Mas, a dado
momento, entendeu que era oportuno desligar do grupo por razões naturais, até
porque os seus escritórios estavam situados em locais do país que pouco têm a ver
com a realidade madeirense. Nesse sentido diz que é difícil conciliar
interesses.
Mudanças
Daí haver
duas saídas: ou seguir os interesses do continente ou eles seguirem os da
Madeira. Por isso, cada um segue o seu rumo, não deixando, contudo, de manter
relações comerciais.
Nesse
sentido é alterado o nome para InterTours, sem problemas de imagem da empresa
na Região, no resto do país e a nível internacional.
Hoje
trabalham na empresa diretamente pouco mais de 50 pessoas.
Atividade
intensa
Emílio
Rodrigues sempre manteve uma atividade intensa no turismo.
Por força
das circunstâncias, ao agente de viagens, são exigidas viagens constantes para
conhecer os destinos e outros geradores de turismo.
Através das
viagens são estabelecidos inúmeros contactos que resultam numa parte da atualização
profissional.
Depois, há o
complemento das revistas e dos jornais de turismo, de marketing, de recursos
humanos, entre outras, e ainda as publicações que recebemos das associações a
que estamos ligados, como acontece, nomeadamente, por parte dos Estados Unidos
da América, uma nação com grande notoriedade nesta área.
Por outro
lado, existem as ações de formação ministradas tanto a nível dos gestores como
dos seus colaboradores e ainda a participação em feiras do sector.
Quanto a
outro tipo de leituras de lazer, dizia que o seu tempo era pouco. Daí que apenas
admitisse ler livros de cabeceira de leitura rápida.
A nível do
tempo médio de trabalho diário, deixa claro que um profissional ligado ao
turismo não pode ter horários. Sublinhava que tinha de estar sempre em contacto com
os clientes, sejam locais sejam do estrangeiro. E com os telemóveis, isso
ainda se aplicava com mais relevância.
Contudo, não
se considerava um fundamentalista do trabalho.
Não
obstante, dizia ser difícil dissociar os tempos de lazer dos tempos de trabalho.
O escape:
golfe
Isto não
obsta a que continuasse a praticar desporto. Dedicava alguma atenção especial ao
golfe. Reconhecia que necessitava de fazer atividade
física. E o golfe encaixava-se perfeitamente para quem tinha uma profissão muito
absorvente.
Afirmava que não ia ser campeão, mas espera atingir um bom handicap.
Além do
desporto gostava de estar com amigos e de conviver.
Entre
amigos
Extrovertido
por natureza, gostava também de ter tempo para si, para refletir.
Adorava fazer férias em família. Considerava que, quando ia em trabalho,
embora estivesse a viajar, não se encaixava no conceito de férias que defende. Fazer
férias, para si, era ir à praia e conhecer novos costumes e culturas.
Normalmente
fazia dois períodos de férias por ano.
Em relação
às novas tecnologias estava ciente que eram fundamentais ao progresso. Por essa
razão fazia grandes investimentos nas suas empresas.
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