Manuel Pestana


A vida do pai do Grupo Pestana

Com o trabalho como “hobby”, o comendador Manuel Pestana consegue guardar dinheiro. Não só amplia os investimentos no país como alimenta o objectivo de construir um hotel na Madeira. O que consegue em 1972. Hoje, a semente que semeou e viu crescer traduz-se no Grupo Pestana, o maior do país a nível de hotelaria.
(Falecido)


Desde o início que Manuel Pestana decide ter o seu próprio negócio. Trabalhar para os outros não lhe diz muito.
O espírito empreendedor leva-o a iniciar a carreira profissional em 1941.
Começa com uma mercearia própria na Ribeira Brava, onde nasce.
Está a dar os primeiros passos quando começa a primeira guerra. Apesar de Portugal ficar de fora, encontra tempos difíceis. Em especial naquela vila, afastada do centro do Funchal.
Manuel Pestana sente falta de condições na ilha para continuar a trabalhar. As suas ideias são demasiado grandes e urgentes. Os compassos de espera não se compadecem com os sonhos.

Rumo à África do Sul

Por isso, em 1946, com a guerra terminada, mas com a crise ainda latente, sai da Madeira em direcção à África. Na bagagem leva uma vontade férrea de procurar uma vida melhor.
Primeiro vai para Moçambique. Mas com destino marcado: a África do Sul.
Uma das maiores dificuldades que sente ao passar para a África do Sul é a língua estrangeira.
Quando chega ao país do extremo sul de África, em 1946, consegue trabalho numa grande quinta. A “Ranavalt Farm”, assim se chama o espaço, é explorada por 10 pessoas, por sinal, da Madeira. Com a chegada de Manuel Pestana passam a ser 11 a dividir a sociedade.
Na quinta são produzidos legumes, frutos e outros produtos.
Durante cerca de cinco anos amealha dinheiro. Quando sente que tem o suficiente, deixa a sociedade. Parte para estabelecer o seu próprio negócio.

A “bottle store”

Em 1951 abre uma loja de bebidas em Joanesburgo. É a chamada “bottle store”. Com o andar dos anos, investe cada vez mais. Tem sempre na base a loja de bebidas, muito tradicional na África do Sul, em especial explorada pelos portugueses e em particular pelos madeirenses.
Nos anos 60 investe em Moçambique, com o prédio de apartamentos “Funchal”, na então cidade de Lourenço Marques, actual Maputo. Hoje, o edifício está recuperado. Lá está o Pestana Rovuma Carlton Hotel, do Grupo Pestana. Uma unidade de quatro estrelas e 400 camas.

Hotel na Madeira

Empreendedor por natureza e trabalhador empenhado, Manuel Pestana depressa consegue ganhar e juntar algum dinheiro. A ideia de voltar a investir na Madeira acompanha-o sempre.
Até que chega o dia em que concretiza o sonho. Investe na Madeira, desta vez no Funchal, na segunda metade da década de 60. Compra o terreno do hotel Atlântico, em 1966. Já com o intuito de o deitar abaixo e construir um novo hotel.
Dois anos depois começa a construção. Fica pronto em 1972.
É criada a empresa “M. & J. Pestana — Sociedade de Turismo da Madeira, S.A.”, proprietária do hotel. Tem dois sócios, com parte iguais: Manuel Pestana e o irmão, José Pestana, que, mais tarde, vende a sua parte ao primeiro.
A M. & J. Pestana, empresa núcleo do Grupo Pestana, vem progressivamente a cumprir com os seus objectivos. Entre estes, destaque para o indiscutível contributo para o desenvolvimento do turismo na Região Autónoma da Madeira.
O hotel é propriedade da empresa. A exploração é entregue, na altura, a quem sabe: a cadeia Sheraton. É o Madeira Sheraton Hotel, que anos depois passa também a gestão para a empresa que acaba de completar 30 anos.
Actualmente, o hotel tem 541 quartos e cerca de 1.100 camas.
Não obstante, não é com este número que nasce. O próprio hotel é alvo de um aumento e surge na falésia o Madeira Beach Club, que marca a entrada do grupo no “time-sharing”. O que acontece em 1985, dando início a uma actividade de marketing e vendas no aluguer de longa duração, que, diga-se de passagem, constitui um êxito, ao ponto de vir a ser aplicado posteriormente noutros hotéis que o grupo constrói.

Contratempos

Não obstante ter erguido o empreendimento, Manuel Pestana depara-se com dificuldades, nomeadamente com a falta de pessoas especializadas.
A juntar a tudo isto, as deslocações de então entre a África do Sul e a Madeira não são fáceis. O aeroporto da Madeira é inaugurado em 1964, mas nem por isso as ligações entre a longínqua Joanesburgo e a Madeira são fáceis.
Além de tudo, Manuel Pestana diz que não é fácil construir na Madeira naquele final da década de 60 e início dos anos 70. O regime trata a ilha como uma província e está longe de proporcionar as condições surgidas depois de 1974, com a revolução, e mais concretamente em 1976, com a implementação da autonomia na Madeira.
Quando constrói o Pestana Madeira Carlton, Manuel Pestana reconhece que não tem propriamente em vista vir a erguer outros hotéis. Salienta que, na altura, é difícil pensar a médio e longo prazo no turismo com a realidade que hoje em dia se lhe reconhece.
No início da aventura pelo mundo da hotelaria, Manuel Pestana não pode contar ainda com o apoio do único filho: Dionísio Pestana, hoje presidente do Grupo Pestana.
Na altura estuda na África do Sul.

O Rovuma

E, se há pouco falávamos que a revolução de Abril de 1974 trouxe a democracia ao país, também é verdade que deixou o caminho aberto para as antigas províncias seguirem os seus próprios destinos. Como resultado dessa realidade, os bens dos portugueses foram confiscados. De um momento para o outro, bens conseguidos com o labor de uma vida caem nas mãos de ninguém.
Manuel Pestana é apanhado nesta onda. Perde o edifício Funchal, em Lourenço Marques.
É um investimento que vê desaparecer. Jamais mantém esperança de vir a recuperá-lo, como hoje confessa.
Por isso, não esconde que se sente feliz por reaver o edifício, na medida em que já o havia dado como perdido. O antigo empreendimento, embora tenha sido entregue como uma concessão alargada, vem a dar lugar a um quatro estrelas do grupo na cidade de Maputo: o Rovuma.

Trabalho intenso

A nível do trabalho, quando exercia a sua actividade profissional na plenitude, mantinha-se empenhado desde manhã, bem cedo, até noite dentro. É uma média de 14 horas diárias, sete vezes por semana.
Ora, fruto de toda esta actividade como emigrante exemplar no seu país de acolhimento e pelo mérito de proporcionar um grande investimento na Madeira, recebe a comenda do Estado português, precisamente em 1972, com a abertura do hotel.
Mais tarde, recebe outras distinções.
Presentemente, Manuel Pestana ainda mantém diversos negócios na África do Sul, apesar de viver na Madeira. Curiosamente, apesar de ainda manter uma “bottle store”, a que hoje tem já é outra. A primeira já a vendeu.

Os grandes momentos

Olhando para trás, Manuel Pestana guarda, logicamente, momentos bons e outros menos bons da sua longa carreira. Considera como momentos positivos da sua carreira, em primeiro lugar, quando consegue licença para abrir a primeira “bottle store”, em 1951, e a inauguração do hotel na Madeira, em 1972.
Hoje, o negócio, que de certa forma começa na Madeira, mas que só ganha grande consistência na África do Sul e mais tarde na Madeira, no país e no mundo, traduz-se num dos mais sólidos grupos empresariais portugueses. Um grupo que continua a ser o maior a nível de hotelaria.

A semente

Manuel Pestana bem se pode sentir satisfeito por ter proporcionado os alicerces e erguido uma parte do empreendimento que dá pelo nome de Grupo Pestana. Um grupo que desenvolve a actividade principal no sector da indústria hoteleira, com a cadeia “Pestana Hotels & Resorts”, com um total de 27 unidades hoteleiras em plena actividade, além de duas em fase de construção e um sem-número de projectos em carteira.
Mas o grupo é mais que a hotelaria, que continua a ser, contudo, o principal negócio.
O Grupo Pestana tem a exploração de jogos de fortuna ou azar. Nesse sentido, é detentor da concessão para o Funchal, onde tem o Casino da Madeira, que conjuga o jogo com a animação, ao ponto de constituir um dos principais pólos neste âmbito no destino Madeira.
Além disso, também entra no domínio da habitação periódica, mais conhecida por “time-sharing”. O grupo entra neste sector em 1985.
Ainda no âmbito do turismo, tem investimentos em agências de viagens, com a Viva Travel, criada em 1981, e operadores turísticos, com a Atlantic Holidays de Inglaterra e a de Espanha.
A aviação é outra área onde o grupo fundado por Manuel Pestana tem uma presença desde há muito tempo. Primeiro começa com a participação na Air Atlantis, em parceira com a TAP. Depois aposta na Air Madeira até chegar hoje à Euro Atlantic Airways, que opera no mercado “charter”. Aliás, todas as companhias em que esteve ligado operam neste sector.
O Grupo Pestana tem interesses igualmente no “rent-a-car”, com a Inter Car, criada em 1998, na exploração de campos de golfe, na imobiliária, produção de energia eólica e na Sociedade de Desenvolvimento da Madeira — com uma quota de 70% — que tem a concessão do Centro Internacional de Negócios da Madeira.
A indústria é outra das apostas na diversificação dos investimentos, com a Empresa de Cervejas da Madeira, especializada na produção de cerveja e refrigerantes.
Diríamos que é um império que qualquer cidadão não poderia deixar de se sentir orgulhoso de fazer nascer e ter a felicidade de assegurar a continuidade com o próprio e único filho.

“Hobby”: o trabalho

Quanto a “hobbies”, Manuel Pestana deixa bem claro que o seu favorito é o trabalho. Sobre esta matéria diz mesmo que se divertia imenso a trabalhar. O resto do tempo é para estar com a família.
A nível de viagens, diz que actualmente não se sente com muita disposição para isso. Aliás, nem mesmo durante os tempos em que estava a 100% à frente dos negócios, dedicava muito tempo às viagens.
Isso não representa que não o tenha feito. Chega a fazer viagens com o fiho Dionísio, uma das quais durante três meses, de carro, por essa Europa fora.
Além de tudo isto, é preciso ter em linha de conta que, nos anos 50 e 60 e mesmo 70, fazer viagens de lazer não encontrava tantas facilidades como as de hoje, que depressa coloca o turista em qualquer parte do Mundo, à distância de algumas horas de avião.
Na altura, para Manuel Pestana, vir à Madeira o meio mais utilizado é o barco, nomeadamente os navios da Union Castle Lines. A própria ligação, de dias, é umas férias forçadas.

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